Dimitry Simonit – a hot latin threesome with the boyfriend

Dimitry olhou para as mãos calejadas, ainda sujas de graxa do último conserto no violino do maestro. Na pequena oficina de restauração de instrumentos em Porto Alegre, ele passava dias inteiros devolvendo vida a violinos, violoncelos e pianos que chegavam danificados pelo tempo. Seu talento era reconhecido, mas sua ambição maior sempre fora a música, não seu reparo.
Do outro lado da cidade, Simonit ajustava o fraque antes do concerto no Theatro São Pedro. Como maestro convidado da OSPA, sua exigência era legendária. Os músicos o respeitavam e temiam na mesma medida. Naquela noite, apresentaria uma peça especialmente desafiadora: o Concerto para Violino de Tchaikovsky.
Duas horas antes do concerto, durante os últimos ajustes, o violino solo de Simonit sofreu um acidente – uma rachadura no cavalete que comprometia totalmente o som. O pânico tomou conta do backstage.
“Precisamos do melhor luthier da cidade, agora!” ordenou Simonit, sua voz grave ecoando pelo corredor.
Foi assim que Dimitry recebeu a ligação desesperada. Ao chegar ao teatro com sua caixa de ferramentas, reconheceu imediatamente Simonit – haviam estudado no mesmo conservatório anos antes, caminhos que divergiram quando Dimitry abandonou a carreira musical após uma crise de ansiedade no palco.
“Você…” Simonit fitou o ex-colega, agora com as mãos marcadas pelo ofício.
“Simonit. Faz tempo.”
“Pode consertar?”
“Em uma hora? É impossível.”
“Tente.”
Enquanto Dimitry trabalhava com uma concentração absoluta, Simonit observava aquelas mãos hábeis, lembrando do talento excepcional que Dimitry demonstrava nas aulas de performance. A memória os transportou para dez anos antes, quando dividiam partituras e sonhos no mesmo conservatório.
Com quarenta e cinco minutos restantes, o violino estava restaurado. Mas o músico solo, tomado por um ataque de nervos, declarou-se incapaz de tocar.
Foi então que Simonit, num impulso que surpreendeu a todos, estendeu o violino a Dimitry.
“Você conhece esta peça melhor do que qualquer um aqui. Eu vi você praticá-la centenas de vezes.”
“Eu não toco há dez anos”, protestou Dimitry, as mãos tremendo.
“Algumas coisas não se esquecem. Como andar de bicicleta.”
O público, impaciente, começava a murmurar quando as luzes baixaram e o solista entrou no palco. Para a maioria, era um rosto desconhecido. Para Dimitry, era o reencontro mais aterrorizante e sublime com sua alma.
Quando seu arco tocou as primeiras notas, algo mágico aconteceu. A técnica reapareceu, mas agora temperada pela maturidade, pelas vivências, pelas mãos que aprenderam a sensibilidade tátil da madeira. Simonit conduziu a orquestra com uma intensidade especial, como se estivesse restaurando não apenas uma performance, mas um destino interrompido.
Ao final, a plateia ergueu-se em aplausos emocionados. Nos camarins, os dois homens se entreolharam.
“Você devia estar no palco, não nos bastidores”, disse Simonit.
“Talvez eu precise de ambos”, respondeu Dimitry, erguendo suas mãos de luthier e músico. “Uma não existe sem a outra.”
Naquela noite, Dimitry Simonit não era mais apenas um nome composto por duas identidades separadas, mas a síntese de um artista completo – aquele que entende a música por dentro e por fora, que constrói e executa, que repara e cria.
E na temporada seguinte, a OSPA anunciou seu novo violino solo: Dimitry Simonit, o luthier que redescobriu sua voz no palco, sob a batuta do maestro que nunca deixou de acreditar no talento que uma vez compartilhara com ele nos anos de conservatório.




