Diego Mineiro and Rico Marlon DP Matt Lian
A Casa da Colina era um ponto turístico abandonado que três desconhecidos compraram juntos, online, por um preço irrisório. O anúncio dizia “vista deslumbrante, necessita reparos”. Era o eufemismo do século.
**Diego Mineiro** chegou primeiro. Carpinteiro e marceneiro, via a casa não como uma ruína, mas como um esqueleto de madeira nobre esperando por um milagre. Suas mãos, calejadas e sábias, avaliavam cada viga, cada piso rangente, com um olhar de possibilidade. Ele começou sozinho, consertando o telhado furado que era a prioridade máxima.
**Rico Marlon** apareceu na semana seguinte, dirigindo uma picape velha cheia de latas de tinta e livros de poesia. Ele era um artista de rua e pintor de interiores, um sonhador prático. Onde Diego via estrutura, Rico via cores. “Estes corredores precisam de luz! Esta sala de jantar será azul-cobalto!”, ele anunciava, enquanto Diego resmungava sobre infiltrações. Rico começou a lixar paredes, seu corpo magro e coberto de tinta branca movendo-se com uma energia contagiante.
O terceiro sócio, **Matt Lian**, era o mistério. Um engenheiro elétrico silencioso que apareceu com uma maleta de ferramentas especiais e um projeto em CAD no tablet. Enquanto Diego consertava o que podia ser salvo e Rico imaginava o futuro, Matt diagnosticava os fios expostos, os disjuntores carbonizados, o sistema elétrico pré-histórico que era um perigo. Seu mundo era de lógica, voltagem e segurança. Ele falava pouco, mas observava muito.
Os primeiros dias foram de estranheza e divisão de tarefas. Diego no telhado e no assoalho. Rico nas paredes. Matt nos recessos escuros da casa, trazendo luz literal aos cantos. A comunicação era por notas no quadro branco da cozinha enferrujada: “Piso do corredor seguro agora. – D”; “Não ligue o interruptor da sala de estar! Risco de choque. – M”; “Encontrei papel de parede vintage no sótão! Sonhem comigo! – R”.
A tensão inicial deu lugar a uma rotina. Diego fazia café forte para três. Rico colocava música alta dos anos 70 para trabalhar. Matt, sorrindo discretamente, corrigia os fios para suportar o alto-falante de Rico. Eles começaram a jantar juntos, comidas simples que Matt surpreendentemente sabia cozinhar bem, no único canto da varanda que Diego havia reforçado.
O primeiro ponto de virada foi uma tempestade violenta. A energia caiu, e o telhado novo de Diego foi posto à prova. Enquanto o vento uivava, os três se abrigaram na sala menos danificada, à luz de lanternas. Rico, para quebrar a tensão, começou a recitar um poema sobre casas e memórias. Sua voz, normalmente alta e teatral, estava suave, íntima. Diego, normalmente tão prático, ficou em silêncio, ouvindo. Matt consertou um rádio à pilha com um clip e um fio, e sintonizou uma estação de jazz estática, criando uma trilha sonora improvisada para a noite.
Naquela escuridão, as paredes que separavam seus mundos começaram a desmoronar. Viram não só sócios, mas homens: Diego, com suas histórias de restaurações passadas e um coração mais romântico do que admitia; Rico, cuja alegria escondia uma sensibilidade aguçada à solidão; Matt, cujo silêncio não era frieza, mas uma forma profunda de observação e cuidado.
A dinâmica mudou. Diego começou a esculpir detalhes na madeira não por necessidade, mas por beleza, pensando em como Rico os descreveria. Rico começou a misturar cores que combinavam com a seriedade de Matt e a calorosidade de Diego. Matt desenhou um sistema de iluminação inteligente que destacava tanto a carpintaria de Diego quanto as cores de Rico.
O clímax aconteceu no conserto da grande escadaria central, o coração da casa. Diego estava no alto, fixando o corrimão. Rico embaixo, pintando o mural no vão. Matt no meio, instalando um pequeno ponto de luz em cada degrau. De repente, uma das ferramentas de Diego escorregou. Sem pensar, Matt, com reflexos rápidos, agarrou-a no ar. Rico, assustado, correu para a base, pronto para ajudar. Ficaram parados, os três, em posições diferentes da escada, respirando fundo.
E então, algo aconteceu. Um entendimento passou entre eles, tão claro quanto a nova fiação de Matt. O olhar de alívio de Diego para Matt, cheio de uma gratidão que ia além do profissional. O gesto instintivo de Rico de tocar o braço de Diego, para certificar-se de que estava bem. O breve sorriso de Matt para ambos, um raro vislumbre de sua alma.
Naquele momento, na escadaria que restauraram juntos, viram a verdade. A casa que estavam construindo não era só de madeira, tinta e fios. Era um espaço para três.
Agora, a Casa da Colina é conhecida. Diego cuida da estrutura e dos móveis feitos sob medida. Rico pinta murais e recebe clientes com um charme irresistível. Matt garante que tudo funcione perfeitamente e projetou um sistema de automação que é uma obra de arte por si só. E à noite, quando a última luz se apaga na colina, eles se encontram na varanda reforçada, sob as estrelas que Matt ajudou a destacar com uma iluminação perfeita. Não precisam de muitas palavras.
Diego, o alicerce. Rico, a cor. Matt, a luz que os conecta. Juntos, descobriram que o amor pode ter mais de dois lados, e que a família mais forte é aquela que você constrói, prego por prego, camada por camada, e circuito por circuito, com as próprias mãos.




