Welcome to Paradise – Mickey Knox, Colby Chambers – fucking o the beach

A cidade de Creekwood tinha dois extremos. No norte, a oficina Knox & Cia. era um reino de ferro, óleo e roncos profundos. Mickey Knox, com as mãos eternamente marcadas por graxa e os ombros largos de quem ergue motores, era o melhor mecânico da região. Seu mundo era tátil, barulhento, resolvido na força e na lógica do torque. Ele entendia o coração de qualquer máquina, mas o coração humano – especialmente o seu – era um território desconhecido e silencioso.
No sul, a Reserva Natural de Creekwood era um santuário de sons sutis. Colby Chambers passava seus dias lá, sentado em torres de observação ou em clareiras escondidas, com um caderno de esboços e binóculos pendurados no pescoço. Ele era um ilustrador de vida selvagem, especializado em pássaros. Sua arte capturava o arrepio das penas de um falcão, a pose delicada de um beija-flor, a quietude atenta de uma coruja. Seu mundo era feito de paciência infinita, silêncio observador e cores suaves. O barulho das motos e das britadeiras da cidade, especialmente o que vinha da oficina de Mickey, era um vandalismo contra o seu paraíso audível.
O destino os colocou em rota de colisão quando o caminhão de entrega de Colby, um veículo antigo e amado, morreu com um último suspiro metálico bem na frente da Knox & Cia. Colby, desolado, viu Mickey sair da oficina, limpando as mãos em um pano sujo, com uma expressão de franca irritação.
“Mais um que não trocou o óleo, né?”, Mickey disse, espiando sob o capô sem cerimônia.
“Eu troco! Ele só… tem personalidade”, Colby defendeu-se, apreensivo com as mãos grandes e habilidosas mexendo nas vísceras de seu velho amigo de rodas.
“Personalidade é o que a gente chama de defeito quando a gente gosta”, resmungou Mickey, mas já diagnosticando o problema com um olhar profissional.
Enquanto Mickey trabalhava, Colby, sem saber o que fazer, sentou-se em um banco de concreto e começou a esboçar. Não os pássaros da reserva, mas a cena à sua frente: a oficina, as ferramentas penduradas como instrumentos cirúrgicos, o vulto concentrado de Mickey curvado sobre o motor, a luz do fim de tarde pintando de ouro o suor em sua nuca. Era força em repouso, poder contido em linhas simples de carvão.




