Dylan James plows bottom twink Nil Roma
O mundo de Dylan James era um de silêncio e precisão. No estúdio de restauração *Arca do Tempo*, ele era um cirurgião do passado, operando com bisturis de aço, solventes de última geração e uma paciência infinita. Suas mãos, protegidas por luvas de nitrila, traziam de volta a luz de telas renascentistas, a textura de pergaminhos medievais. O caos era seu inimigo. A poeira, um vírus.
Nil Roma era o caos.
Ele chegou ao estúdio enviado pelo dono, um excêntrico milionário que era também tio de Dylan. “Precisa aprender um ofício, Dylan. Tira esse menino da rua por um tempo”, disse a mensagem. Nil tinha os punhos tatuados, o cabelo escuro despenteado e olhos que pareciam captar tudo, mas guardar nada. Cheirava a tabaco, concreto molhado e uma energia inquieta que fazia o ar vibrar.
“Você vai limpar pincéis e preparar telas”, Dylan explicou, com a voz contida de quem fala em uma biblioteca. “Sem tocar em nada. Sem fazer barulho.”
Nil assentiu, mas seu olhar já vasculhava o estúdio como um ladrão, não por ganância, mas por pura curiosidade feroz. Ele não limpou pincéis. Ficou observando Dylan por horas, dias, em um silêncio que era mais intenso que qualquer ruído.
A peça da vez era um pequeno retrato do século XVIII, uma dama com um colar de pérolas, seu rosto encoberto por uma sujeira secular e um verniz amarelado que a asfixiava. Dylan trabalhava milímetro a milímetro, revelando meticulosamente o azul do vestido.
Uma tarde, Dylan foi chamado para uma reunião urgente. “Não toque em nada”, repetiu ao sair.
Quando voltou, o coração parou. Nil estava diante do retrato, sem luvas, com um cotonete na mão. Mas não estava destruindo. Estava trabalhando. Com um movimento minúsculo, quase imperceptível, ele havia limpo uma área do rosto da dama — não com os solventes caríssimos de Dylan, mas com uma mistura caseira e improvisada que cheirava a cachaça e algo herbal.
“O quê… O que você fez?”, a voz de Dylan saiu estrangulada pelo pânico.
Nil não se afastou. “Ela tava sufocando, mano. Você tava com medo dela. Eu não.” Ele apontou para os olhos da figura no quadro. Onde antes havia apenas manchas, Dylan agora via o brilho úmido de um olhar melancólico, uma verdade humana que ele, em seu zelo perfeccionista, não havia sequer percebido que estava ali, esperando.
“Como você soube?”, Dylan perguntou, a raiva dando lugar a um assombro profundo.
Nil encolheu os ombros. “A rua ensina. A ver o que tá por baixo. A sujeira é só uma capa. Você tava restaurando o quadro. Eu tava restaurando o *olhar*.”
Foi o início. Dylan, o mestre da técnica, começou a ver que Nil tinha um dom intuitivo brutal, uma conexão visceral com a história *viva* das peças, não apenas com sua materialidade morta. Nil, por sua vez, descobria na disciplina silenciosa de Dylan uma âncora para sua tempestade interior.
O teste final veio com um ícone russo, rachado e quase desfeito. A tarefa era desmontá-lo para consolidar a madeira. Dylan preparou todo o equipamento. Nil observou a peça por uma noite inteira.
“No tá dando”, disse ele de manhã, os olhos vermelhos de cansaço. “Ela não quer ser desmontada. Ela quer se manter junta.”
“É impossível consolidar sem desmontar”, argumentou Dylan, preso à lógica.
Nil, então, fez o impensável. Pediu cola de marceneiro, gesso fino e fragmentos de madeira de um altar barroco descartado que estava no porão. Sem permissão. Durante 72 horas, ele não dormiu. Não restaurou o ícone no sentido clássico. Ele o *reconstruiu* por trás, criando uma nova estrutura de apoio, uma carapaça que mantinha a integridade da imagem original, rachaduras e tudo, como cicatrizes que contavam sua história.
Quando Dylan viu o resultado, não pôde falar. O ícone estava estável, íntegro, e sua alma — aquela expressão sagrada e sofrida — estava mais forte do que nunca. A técnica de Nil era uma heresia. O resultado era uma revelação.
No estúdio *Arca do Tempo* agora há duas mesas. Na de Dylan, bisturis alinhados, frascos etiquetados, silêncio. Na de Nil, um caos aparente de materiais não convencionais, um rádio sussurrando samba antigo, e o cheiro de café forte.
Juntos, eles não consertam objetos. Eles resgatam histórias. Dylan ensina a Nil a paciência do século. Nil mostra a Dylan a urgência do agora. E a dama do retrato do século XVIII, com seu olhar agora vivo, parece sorrir para a duela mais improvável da arte: o filho das ruas e o príncipe do silêncio, encontrando, juntos, a beleza escondida sob as camadas do tempo.




