House Rules Chapter 1 – Darien Valentino and Ty Roderick

O vento noturno soprava folhas secas sobre os telhados da cidade, e Darien Valentino observava a cidade adormecer de sua varanda. Ele era um relojoeiro, um homem que acreditava que a vida era composta de pequenos, precisos momentos. Mas desde que Ty Roderick se mudara para o apartamento em frente, seus próprios mecanismos internos pareciam desregulados.
Ty era o oposto: um barista e artista de rua cujas mãos estavam sempre manchadas de tinta ou terra de café, cuja risada ecoava na escada de incêndio. Enquanto Darien organizava engrenagens sob a luz azul de sua bancada, Ty pintava murais efêmeros com giz no beco, obras lindas e destinadas a desaparecer com a chuva.
Seus mundos colidiam em encontros breves: no correio, onde Ty sempre esquecia a chave; no café da esquina, onde Darien bebia seu expresso às 15h07 em ponto. Eles trocavam acenos, sorrisos tímidos, palavras soltas sobre o tempo. Darien começou a desenhar, nas margens de seus esquemas técnicos, flores que se assemelhavam aos rabiscos coloridos de Ty.
A atração era um ritmo surdo sob o peito, um ponteiro prestes a completar seu ciclo.
O clímax veio numa quinta-feira chuvosa. Darien, ao passar pelo beco, viu a mais nova obra de Ty sendo apagada pela chuva torrencial: duas figuras estilizadas, de mãos dadas, dissolvendo-se em rios de cor. E Ty ali, parado, observando a destruição com uma serenidade que cortou o relojoeiro ao meio.
Sem pensar, Darien aproximou-se e estendeu sobre a cabeça de Ty seu guarda-chuva preto e preciso. A água escorria pela borda, criando uma cápsula privada para eles dois.
“É uma pena,” disse Darien, sua voz mais suave do que pretendia. “Era lindo.”
Ty olhou para ele, gotas de chuva presas em seus cílios. “A beleza não está em durar, Darien. Está em ter existido. Em ter sido visto.” Seus olhos percorreram o rosto do relojoeiro. “Por alguém.”
Naquele instante, sob a chuva, algo dentro de Darien engrenou. Ele entendeu que não se tratava de cronometrar momentos, mas de vivê-los, por mais efêmeros que fossem. Inclinou-se, e o espaço entre eles desapareceu. O beijo não foi planejado, não foi medido. Foi como a pintura de giz: vibrante, completo e, de certa forma, fadado a se transformar. Saboreou a tinta e o café nos lábios de Ty, o calor em meio ao frio.
Quando se separaram, a chuva amainara. Ty sorriu, um daqueles sorrisos que desafiavam a precisão. “Finalmente,” sussurrou. “Pensei que você nunca iria ajustar seu relógio interno para o meu fuso horário.”
Darien riu, um som verdadeiro e livre que ecoou pelas paredes úmidas do beco. Entrelaçou os dedos com os de Ty, sentindo as texturas ásperas de tinta e os calos. “Meu fuso horário é onde você está,” disse, simplesmente. “Sempre foi.”
E dali em diante, a vida de Darien Valentino passou a ter dois tempos: o tempo preciso e solitário das engrenagens, e o tempo expansivo e dourado ao lado de Ty Roderick. Ele aprendeu a beber café fora de hora e a ver beleza no temporário. Ty, por sua vez, encontrou um porto seguro, um testemunha constante para suas artes passageiras.
Juntos, descobriram que o amor não era um relógio de precisão, mas uma pintura de giz — feita de momentos ousados e delicados, sempre em transformação, mas sempre, infinitamente, renascendo a cada toque, a cada olhar, a cada novo amanhecer compartilhado.




