Jeffrey Lloyd and Ridick fuck
**O Colecionador de Silêncios**
Jeffrey Lloyd era um homem de rotinas imutáveis. Todas as tardes, pontualmente às quatro, ele se sentava no mesmo banco de mármore da praça Euclides, sob a sombra de uma magnólia centenária. Ali, ele lia seu jornal, observava os pardais e colecionava silêncios entre o burburinho da cidade.
Ridick era o oposto vivo de Jeffrey. Um cão vira-lata grande, de pelagem cor de terra e olhos âmbar que pareciam guardar o fogo de todas as fogueiras em que se aquecera. Não tinha dono, mas a praça era seu reino. Conhecia cada cantinho, cada fonte de migalhas generosas, cada sombra aconchegante para uma soneca.
Por semanas, seus universos coexistiram em órbitas paralelas. Ridick farejava o perímetro do banco de Jeffrey, mas nunca se aproximava. Jeffrey observava o animal com um interesse discreto, admirando sua dignidade independente. Até que um dia de outono, quando uma chuva fina e repentina caiu sobre a praça.
Jeffrey, preparado como sempre, abriu seu guarda-chuva grande e preto. Ridick, surpreendido pela chuva, ficou encolhido sob a magnólia, que já não oferecia muita proteção. Num gesto que surpreendeu a si mesmo, Jeffrey inclinou levemente o guarda-chuva e disse, num tom suave:
— Vem cá.
Ridick ergueu a cabeça, os olhos âmbar fitando os olhos azuis-claros do homem. A desconfiança durou três segundos. Depois, com uma calma solene, atravessou a distância entre eles e se acomodou aos pés de Jeffrey, no espaço seco.
Na tarde seguinte, mesmo com sol, Ridick aproximou-se e deitou-se ao lado do banco. Jeffrey, previdente, tirou um biscoito simples do bolso. Não jogou. Apenas colocou no chão, ao seu lado. Ridick aceitou.
Assim nasceu um pacto silencioso. Jeffrey começou a trazer duas garrafas térmicas: uma com chá para si, outra com água fresca para Ridick. Ridick, por sua vez, assumiu a guarda do banco. Afastava outros cães errantes com um olhar e lateva baixo para os pombos mais ousados. Tornou-se o guardião dos silêncios de Jeffrey.
A cidade ao redor seguiu seu ritmo alucinado, mas naquele canto da praça, o tempo parecia desacelerar. Jeffrey lia trechos do jornal em voz baixa para Ridick, que abanava o rabo ao ouvir certas entonações. Ridick ensinou Jeffrey a observar os sinais: o piar específico dos filhotes de pardal no ninho, a direção do vento que trazia o cheiro de pão da padaria, o som distinto da velha senhora que trazia restos de bife aos domingos.
Um dia, Jeffrey não apareceu.
Ridick esperou. Permanecia no banco desde o amanhecer, apenas se afastando para beber água e fazer necessidades, retornando rapidamente. No segundo dia, seu olhar ficou opaco. No terceiro, um menino que costumava vê-los juntos se aproximou.
— O senhor Lloyd quebrou o quadril, Ridick. Ele está no hospital. Vai ficar bem — disse o garoto, como se o cão pudesse entender cada palavra.
Talvez Ridick não entendesse as palavras, mas entendeu a energia. Ficou mais quieto, mas não desesperado.
Duas semanas depois, Jeffrey voltou à praça, movendo-se devagar com uma bengala. Seu rosto iluminou-se quando viu uma figura marrom disparando em sua direção. Ridick não pulou. Apoiou suavemente a cabeça no joelho do homem, num gesto contido de profundo reconhecimento.
Jeffrey sentou-se no banco, com mais dificuldade. Ridick deitou-se ao seu lado, encostando seu corpo quente contra a perna de Jeffrey.
A rotina retornou, mas agora transformada. Jeffrey já não colecionava apenas silêncios. Colecionava a lealdade quente ao seu lado, a linguagem sem palavras de um amigo de quatro patas. E Ridick, o rei errante da praça, tinha finalmente um porto. Um porto que cheirava a chá, a jornal fresco e a um silêncio compartilhado que valia mais do que todos os latidos do mundo.
Naquele banco, sob a magnólia, dois solitários tinham encontrado, um no outro, uma certa e quieta forma de lar.
Jeffrey Lloyd era um homem de rotinas imutáveis. Todas as tardes, pontualmente às quatro, ele se sentava no mesmo banco de mármore da praça Euclides, sob a sombra de uma magnólia centenária. Ali, ele lia seu jornal, observava os pardais e colecionava silêncios entre o burburinho da cidade.
Ridick era o oposto vivo de Jeffrey. Um cão vira-lata grande, de pelagem cor de terra e olhos âmbar que pareciam guardar o fogo de todas as fogueiras em que se aquecera. Não tinha dono, mas a praça era seu reino. Conhecia cada cantinho, cada fonte de migalhas generosas, cada sombra aconchegante para uma soneca.
Por semanas, seus universos coexistiram em órbitas paralelas. Ridick farejava o perímetro do banco de Jeffrey, mas nunca se aproximava. Jeffrey observava o animal com um interesse discreto, admirando sua dignidade independente. Até que um dia de outono, quando uma chuva fina e repentina caiu sobre a praça.



