Twinks Fuck At The Party – Kallelxx
O mundo de Kalea era silencioso. Um universo de cores e movimentos que ela capturava em suas telas, mas que nunca conseguia ouvir. A surdez a isolava em uma redoma de vidro, onde os sentimentos dos outros chegavam a ela amortecidos, como ecos distantes.
Kael, por outro lado, vivia em um mundo de ruídos constantes. O som de seus próprios passos na cidade, a melodia desconexa da multidão, o barulho ensurdecedor de seus próprios pensamentos. Ele era um compositor, um artesão de sons, mas que se sentia incompreendido em um mar de palavras vazias.
Eles se encontraram em um café, um lugar que Kalea frequentava para esboçar a vida alheia e Kael para tentar compor em paz. Ele a viu primeiro, concentrada, seus dedos manchados de tinta aquarela dançando sobre o papel. Ela o viu depois, um homem de olhos cansados, tocando levemente os dedos na mesa, como se estivesse teclando um piano invisível.
O primeiro contato foi um desastre quase cômico. Kael tentou perguntar se a cadeira ao lado estava vaga. Kalea não ouviu. Ele, sem entender, pensou que estava sendo ignorado. Foi só quando ela se virou e ele viu o pequeno brinco de sinalização em sua orelha que a peça se encaixou. O constrangimento dele foi tão visível que ela não pôde evitar um sorriso tímido.
Kael, então, fez algo que ninguém nunca tinha feito com tanta naturalidade. Pegou um guardanapo e uma caneta e escreveu:
*“Posso me sentar? Seus desenhos são lindos.”*
Kalea leu e, com um lápis de cor, respondeu no mesmo guardanapo:
*“Obrigada. E você, o que está compondo? Sua expressão é intensa.”*
Assim começou tudo. Em guardanapos, em cadernos, na tela do celular. Suas palavras eram escritas, não faladas. Kael descobriu que, longe do ruído, suas frases se tornavam mais precisas, mais verdadeiras. Ele não compunha músicas para ela ouvir, mas compunha *sobre* ela. Sobre a suavidade do seu jeito, a intensidade do seu olhar, a poesia silenciosa de seus gestos.
Kalea, por sua vez, mostrou a Kael o seu mundo. Ensinou-lhe a linguagem de sinais, e ele a aprendeu com a dedicação de um poeta aprendendo um novo idioma. Suas mãos, acostumadas a acariciar teclas de piano, agora formavam palavras no ar, contando segredos que ele nunca ousara verbalizar.
Uma tarde, no estúdio de Kael, ele a levou até o piano. Colocou as mãos dela sobre a madeira vibrante da caixa acústica enquanto ele tocava. Kalea não ouviu a melodia, mas *sentiu*. A música pulsava através de suas pontas dos dedos, um rio de emoção pura que corria por seu corpo. Ela chorou, e pela primeira vez, o silêncio dela não era uma ausência, mas uma presença plena, preenchida pela vibração que ele criava.
Para Kael, a maior composição de sua vida não foi uma sinfonia para multidões, mas um único gesto, feito no telhado do prédio dela, sob um céu estrelado. Ele não disse nada. Apenas pegou a mão dela e, com uma calma infinita, soletrou em Língua de Sinais:
**“A-M-O V-O-C-Ê.”**
Kalea olhou para suas mãos, depois para seus olhos, e o universo inteiro pareceu conter a respiração. Então, ela sorriu, um sorriso que iluminou a noite, e respondeu com seus próprios dedos:
**“E-U T-A-M-B-É-M.”**
Era tudo o que precisavam. Em seu mundo feito de toques, de olhares e de palavras escritas na palma da mão, Kalea e Kael haviam encontrado a mais perfeita sintonia. Dois corações batendo no mesmo ritmo, provando que o amor, na sua forma mais pura, não precisa de som para ser ouvido. Ele apenas é.




