Sniff n Sox – Pup Arrow, Pup Blade

A Floresta dos Sussurros era um lugar de sombras verdes e silêncio profundo, onde a luz do sol raramente tocava o chão de musgo. Era também o território de duas alcateias rivais: os Arrows, ágeis e letais como as flechas que carregavam no nome, e os Blades, ferozes e cortantes como lâminas.
**Pup Arrow** era o mais jovem da sua alcateia. Enquanto os outros praticavam o salto silencioso ou o rasto implacável, ele preferia observar a forma como a teia de aranha retinha o orvalho ou escutar a canção secreta dos riachos. Era considerado um estranho, um sonhador.
**Pup Blade**, por outro lado, era a promessa da sua alcateia. Forte, rápido, com um olhar que já prometia a ferocidade de um lobo adulto. Mas nos seus momentos sozinhos, longe dos olhares exigentes do seu pai, o Alpha, ele recolhia penas caídas e as alinhava na terra, criando padrões que apenas ele entendia.
Num dia de fronteiras tensas, os seus caminhos cruzaram. Pup Arrow estava a traçar o curso de um besouro azul raro quando ouviu um ganido de dor. Encontrou Pup Blade com a pata dianteira presa numa armadilha de aço, deixada por caçadores humanos. O olhar de Blade era de puro pânico e orgulho ferido.
Em vez de fugir ou de aproveitar a fraqueza do rival, Arrow aproximou-se. Os seus instintos não eram de guerra, mas de cura. Com paciência e dentes surpreendentemente delicados, ele conseguiu libertar a pata ensanguentada. Depois, mastigou algumas ervas amargas que conhecia e colocou-as sobre o ferimento.
“Porque fizeste isso?” rosnou Blade, confuso, a dor a misturar-se com a desconfiança.
“Porque estava preso,” respondeu Arrow, simplesmente.
Aquele único ato de compaixão num mundo de rivalidade tornou-se no seu segredo mais precioso. Encontravam-se na clareira proibida, a terra de nenhum lobo entre os seus territórios. Lá, Arrow mostrava a Blade a dança dos vaga-lumes, e Blade ensinava a Arrow os rudimentos da defesa, não para atacar, mas para se proteger. Ele descobriu que a força de Blade era uma muralha à volta de um coração tão sensível quanto o seu. E Blade percebeu que a gentileza de Arrow não era fraqueza, mas uma forma diferente de coragem.
O amor deles não era permitido. Era uma traição às suas alcateias, às suas tradições de ódio. Quando o Alpha Blade descobriu, o seu rugido abalou a floresta. Os dois jovens foram arrastados para a clareira principal, onde as duas alcateias se enfrentaram, os dentes à mostra.
“Escolhe,” o Alpha Blade rugiu para o seu filho. “Mata o filhote Arrow e prova a tua lealdade, ou partilha o seu destino.”
Pup Blade olhou para o seu pai, depois para Pup Arrow, cujos olhos não mostravam medo, apenas uma tristeza profunda. Então, Blade levantou a cabeça e dirigiu-se a ambas as alcateias.
“O meu destino não é matar,” a sua voz juvenil ecoou com uma autoridade inesperada. “É proteger. A nossa força tornou-nos estúpidos. Cegou-nos para a beleza que Arrow me mostrou. Se isso é traição, então sou um traidor.”
Ele deu um passo em frente, colocando-se ao lado de Arrow.
Por um momento, o ódio no ar era palpável. Mas então, algo aconteceu. A mais velha das alcateias Arrows, uma loba cega e sábia, levantou o focinho para o vento.
“Eles não cheiram a traição,” ela sussurrou, a sua voz frágil cortando o silêncio. “Eles cheiram a uma nova aliança.”
O desafio de Pup Blade e o ato de coragem de Pup Arrow não acabaram com séculos de hostilidade naquele dia. Mas plantaram uma semente. Os dois jovens, expulsos de ambas as alcateias, tornaram-se os fundadores de uma nova: a alcateia dos Arco-Lâminas.
E na clareira que outrora foi proibida, Pup Arrow e Pup Blade governaram não com garras e dentes, mas com um coração que entendia que a verdadeira força não está em dominar, mas em curar. E o seu amor, que começou com um ato de misericórdia, tornou-se a lenda que finalmente uniu uma floresta dividida.