Sexo e muito putaria – Alex Kof e Prince
O apartamento de **Alex Kof** era um santuário de previsibilidade. Cada livro na estante estava alinhado por altura e cor, a cafeteira italiana brilhava como nova e o silêncio era um hino à ordem. Alex era um arquiteto, um homem que acreditava que a beleza residia na estrutura, na forma, no controle. Sua vida era um projeto bem executado, mas que, nos últimos tempos, parecia incrivelmente vazio.
**Prince** era o caos em forma de homem.
Eles se conheceram no telhado do prédio, um espaço que Alex considerava um desastre de fios e antenas, mas que Prince havia transformado em seu estúdio ao ar livre. Prince era um artista de rua, com rastros de tinta spray nas mãos e um nome que soava como um desafio. Seus dreads eram presos com um pedaço de fita colorida e seus olhos, da cor do mel, brilhavam com uma luz que desarrumava algo dentro de Alex.
“Você está invadindo espaço privado”, Alex disse, a primeira vez, com a voz mais firme do que se sentia.
Prince virou-se, sem se perturbar. “O céu é público, arquiteto. Só estou mais perto dele.” Seu sorriso era fácil, desarmante. “Quer ver?”
Alex não queria. Mas seus pés o levaram para mais perto. A tela — uma placa de madeia abandonada — estourava em cores violentas e lindas. Era um retrato, distorcido e cheio de alma.
“É… caótico”, Alex conseguiu dizer.
“É vida”, Prince corrigiu, suavemente. “Você projeta concreto. Eu pinto o que o concreto tenta esconder.”
Aquela deveria ser a primeira e última interação. Mas tornou-se um ritual. Alex subia ao telhado após o trabalho, sob o pretexto de “fiscalizar”. Ele observava Prince trabalhar, hipnotizado pela energia crua que emanava de cada gesto. Prince, por sua vez, começou a desenhar Alex — não sua forma física, mas a estrutura rígida que ele representava, transformando-a em linhas que se quebravam e renasciam em algo orgânico.
Era impossível não se apaixonar.
Prince ensinou Alex a ver a beleza na desordem, na pichação em um muro, na maneira como a chuva distorcia a cidade perfeita que Alex desenhava. Alex, por sua vez, ofereceu a Prince um porto seguro, a solidez de um abraço que não exigia nada além de presença.
O amor deles floresceu naquele limiar entre a ordem e o caos. Até o dia em que Prince recebeu uma proposta para um projeto em outro país, uma oportunidade única.
“É só por seis meses”, Prince disse, sua voz mais suave do que o normal.
O mundo previsível de Alex desmoronou. Seis meses eram uma eternidade. Era o caos invadindo sua vida de uma forma que ele não podia controlar.
Na noite anterior à partida, no telhado, Alex estava em silêncio. Prince pegou numa lata de spray dourada e aproximou-se de uma das paredes de betão nu.
“O que você está fazendo?” Alex perguntou.
“Deixando uma estrutura para você”, Prince respondeu, começando a pintar.
O que surgiu não foi um desenho complexo, mas um simples e perfeito coração, delineado a ouro. No centro, as iniciais A + P.
“Você sempre fala de estruturas”, Prince disse, baixando a lata. Suas mãos estavam tremendo. “Esta é a minha. O amor é a única estrutura que importa. Ele segura, mesmo à distância.”
Alex olhou para o coração dourado, refletindo a primeira luz das estrelas. E entendeu. O amor deles não era sobre ordem ou caos. Era sobre a estrutura invisível que haviam construído juntos, forte o suficiente para atravessar oceanos e tempo.
Ele pegou na mão de Prince, a tinta dourada transferindo-se para seus dedos limpos — uma marca de caos, uma promessa de ordem. E soube, sem sombra de dúvida, que aquele projeto, o do seu coração, era o mais importante que já encontrara.




