ScaryFucks 3 – Ghostface Fuck – Alex Tremo and Jarguma
O vento soprava grãos de areia contra os vidros blindados do jipe, criando um som de chuva seca e constante. Alex Tremo ajustou os óculos de visão noturna, seus olhos escaneando a escuridão infinita do deserto de Gobi. Ele era um biólogo, um homem de ciência e lógica, enviado para estudar os extremófilos – formas de vida que prosperavam onde nenhuma deveria. Sua vida era um catálogo de dados e hipóteses.
Até ela.
Jarguma era um mito para o povo nômade local. “O Espírito das Dunas”. Uma figura solitária que surgia na penumbra do amanhecer ou do crepúsculo, sempre à distância, observando. Os pastores sussurravam que ela era a alma do próprio deserto.
A primeira vez que Alex a viu de perto, não foi um mito. Foi uma mulher. Ela estava parada no topo de uma duna, envolta em um manto de feltro escuro, o cabelo negro como a noite entrelaçado com fios prateados que brilhavam sob a lua. Seus olhos, daquela distância, pareciam refle tir a luz das estrelas. Ela não fugiu. Apenas olhou para ele, e Alex, pela primeira vez em sua vida, sentiu que era ele o espécime sendo estudado.
Ele tentou abordagens científicas. Deixou oferendas – água, frutas, um pedaço de pano limpo. Ela aceitava em silêncio, desaparecendo na paisagem antes que ele pudesse piscar. Ele a chamou de Jarguma, o nome que os pastores usavam. Ela nunca se apresentou.
Os dias viraram semanas. Alex começou a notar padrões. Onde Jarguma passava, uma flor rara e resistente desabrochava entre as pedras. Uma fonte de água subterrânea se mostrava mais pura. Ela não era um espírito; era uma guardiã. Uma conhecedora profunda de um mundo que os mapas de Alex nunca poderiam capturar.
A verdadeira conexão veio durante uma tempestade de areia. O jipe de Alex ficou encalhado, o mundo exterior se reduziu a um rugido âmbar e cego. Ele estava perdido, a lógica não servia para nada. Foi então que uma mão firme agarrou a dele. Era Jarguma. Seus olhos, agora tão perto, não refletiam as estrelas – eles eram estrelas, cheios de uma sabedoria antiga e tranquila.
Ela o levou até um abrigo natural, uma caverna escondida por rochas, onde o ar era fresco e quieto. Ali, sem palavras, ela compartilhou água de um odre e pedaços de carne seca. Ele, em troca, mostrou a ela fotos de seu mundo – florestas verdes, oceanos azuis. Jarguma tocou a tela do tablet com a ponta dos dedos, um gesto de reverência e curiosidade.
Na manhã seguinte, a tempestade havia passado. Alex sabia que sua missão estava terminando. Ele ofereceu a Jarguma o mundo dele. Um lugar no jipe. Uma vida longe daquele isolamento.
Ela olhou para ele, e depois para o deserto que se estendia até onde a vista alcançava. Um sorriso suave, tão raro quanto a chuva naquele lugar, tocou seus lábios. Ela pegou a mão dele e a pressionou contra sua própria face, um gesto de uma intimidade avassaladora. Depois, ergueu a mão e apontou para o deserto, depois para o próprio peito.
A mensagem era clara. Ela era o deserto. Sua alma estava entrelaçada com a areia e o vento. Não podia ser levada.
Alex partiu, mas levou consigo uma nova ciência. A ciência do silêncio que fala, da distância que abraça, e de um amor que não precisava de posse para ser real. Às vezes, nas noites mais claras, ele olha para o horizonte e sabe que Jarguma está lá. A guardiã. Seu espírito das dunas. Uma história de amor escrita não em palavras, mas na areia, soprada para sempre no vento entre seus dois mundos.




