Ryan Mckenna and Mark Sullivan jerk during a shoot
Ryan McKenna era o bibliotecário-chefe da Biblioteca Pública Carnegie, um santuário de silêncio e ordem. Seu mundo era feito da classificação decimal de Dewey, do cheiro inconfundível de papel envelhecido e do som suave de páginas sendo viradas. Ele usava cardigãs de lã, mesmo na primavera, e acreditava que cada livro tinha seu lugar exato no universo—assim como ele.
Mark Sullivan era o novo paisagista contratado pela prefeitura para revitalizar o jardim público ao lado da biblioteca. Seu universo era de terra, raízes, podas estratégicas e flores que insistiam em crescer para onde bem entendiam. Ele usava camisas de flanela com os cotovelos desgastados, carregava o aroma de terra molhada e grama cortada, e sua risada ecoava, desafiadora, pelo silêncio sagrado da ala de leitura sempre que uma janela era aberta.
No início, foi uma guerra fria. Ryan franzia a testa quando o zumbido do cortador de grama invadia sua hora de contação de histórias para crianças. Mark revirava os olhos quando Ryan aparecia na porta dos fundos para reclamar, com exatidão meticulosa, de uma trepadeira que estava “obstruindo indevidamente a visão da janela oeste, afetando a luminosidade ideal para leitura”.
O primeiro cessar-fogo aconteceu por causa de um raro livro de botânica do século XIX. Mark, desesperado para identificar uma praga que atacava as rosas antigas do jardim, engoliu o orgulho e entrou na biblioteca. Ryan, com uma eficiência que beirava a arrogância, o guiou até um volume encadernado em couro, escondido na seção de raridades. Enquanto Mark folheava as páginas com mãos cuidadosas, mas sujas de terra, Ryan não pôde deixar de notar a expressão de pura reverência em seu rosto.
“É lindo”, Mark sussurrou, não sobre as ilustrações, mas sobre a precisão das descrições.
“É… sistemático”, Ryan concordou, surpreso ao sentir que aquela era uma linguagem que ambos compreendiam, apesar de tudo.
A partir daí, uma trégua curiosa se estabeleceu. Ryan começou a levar café para Mark nas manhãs frias de trabalho no jardim. Mark, em troca, começou a deixar pequenos buquês de ervas aromáticas—lavanda, alecrim, tomilho—no balcão de empréstimos de Ryan. “Para alegrar o ar estático”, dizia ele.
Ryan descobriu que a desordem aparente do jardim tinha uma lógica própria, uma coreografia de luz, cor e ciclo de vida. Mark aprendeu que o silêncio da biblioteca não era vazio, mas povoado por milhares de vozes e histórias.
O amor floresceu, literalmente, em uma tarde de chuva. Uma tempestade inesperada ameaçou arruinar os novos canteiros de Mark. Ryan, vendo a correria pela janela, abandonou seu posto e correu para ajudar, segurando lonas com mãos que normalmente só manuseavam papel. Ensopados e com frio, se abrigaram na estufa do jardim. O cheiro de terra úmida e vegetação era intenso, e o som da chuva no vidro criava uma intimidade súbita.
“Você vai estragar o cardigã”, disse Mark, vendo a lã encharcada de Ryan.




