Ruggery Valdivia and Jake Lux fuck
O vento soprava folhas secas pela calçada da Rua das Magnólias quando Ruggery Valdivia decidiu que estava farta de ser invisível. Trabalhava na pequena livraria “O Página Aberta”, arrumando livros, recomendando clássicos para clientes distraídos e sonhando com aventuras que nunca chegavam. Sua vida era um livro de capa cinzenta, até aquele outubro.
Jake Lux não era um homem cinza. Era um clarão de luz, como sugeria seu sobrenome. Cabelo desarrumado de um loio queimado pelo sol, olhos da cor do céu após a chuva e um sorriso que desarmava até a mais resistente das muralhas. Ele entrou na livraria não atrás de um best-seller, mas de um guia sobre as aves migratórias da região.
“Preciso encontrar onde elas pousam ao entardecer”, disse ele, suas mãos marcadas por pequenos cortes e terra seca – mãos de quem trabalhava com coisas reais, não apenas com ideias.
Ruggery, com seu jeito metódico, ajudou-o. Enquanto folheavam páginas juntos, ele contou que era paisagista, que acreditava que os jardins deveriam ser não só belos, mas refúgios para a vida selvagem. Ela, por sua vez, falou sobre como cada livro era um mundo esperando para ser habitado.
Ele voltou no dia seguinte. E no outro. Sempre com uma desculpa: um livro sobre a flora nativa, um mapa de trilhas, um caderno para anotações. Ruggery percebeu que as visitas eram, na verdade, sobre ela. E Jake descobriu que a quietude da livraria e a calma presença de Ruggery eram mais revigorantes que qualquer jardim.
O primeiro beijo aconteceu no Jardim Botânico, projeto de Jake. Ele a levara para ver seu trabalho, um tapete verde que se perdia de vista, pontuado por cores vibrantes. No canto mais isolado, sob uma cerejeira que despejava pétalas rosas como uma bênção, ele apontou para um banco de madeira.
“Fiz este especialmente para você. Para ler. Para descansar.”
Ela olhou para o banco, depois para ele, e o coração, aquele órgão que ela julgava conhecer tão bem pelas páginas dos romances, acelerou de uma forma completamente nova. Sem uma palavra, ele se inclinou e beijou-a. Era um beijo doce, lento, que sabia a terra molhada, a papel antigo e a todas as promessas de primavera.




