Rick Kelson fucks Haskell Holland
O mundo de Haskell Holland era feito de silêncios. Silêncio das páginas antigas de sua livraria de usados, O Estalo da Lombada. Silêncio das histórias empoeiradas que ele preferia às pessoas. Seu dom era ouvir o que os livros sussurravam, reparar o que estava partido, dar uma nova capa ao que fora abandonado. Era um homem de palavras impressas, mas poucas faladas.
O universo de Rick Kelson era feito de metal e ruído. Ele era o dono da Kelson’s Kustom, uma oficina mecânica três quarteirões abaixo da livraria, especializada em carros antigos. Suas mãos, sempre tingidas de graxa, conversavam com motores, entendiam o ronco de um carburador, traduziam rangidos em diagnósticos. Era um homem de poucas palavras, mas de ação constante.
Seus caminhos nunca deveriam se cruzar. Até que o inverno mais cruel em décadas congelou as tubulações do prédio antigo que dividiam. O cano estourou no andar de Haskell, uma cachoeira gelada ameaçando destruir séculos de papel e tinta.
Desesperado, Haskell correu para a rua, procurando por qualquer ajuda. A única luz acesa na rua deserta era a da oficina de Rick. Ele bateu na porta de vidro embaçada, suas mãos trêmulas de frio e pânico.
Rick abriu, uma chave-inglesa ainda na mão, o rosto marcado por uma linha de óleo. Sem fazer perguntas, apenas lendo o desespero no rosto do livreiro, pegou sua caixa de ferramentas e um maçarico. “Mostra”, foi tudo que disse.
Nas horas seguintes, enquanto Rick lutava contra o cano rebelde no porão úmido, Haskell trouxe café quente e ficou observando. Não via apenas um homem consertando um tubo. Via a concentração de um artesão, a paciência de um restaurador. Via mãos que, como as suas, traziam coisas de volta à vida.




