Radek Pozer and Milos Hek fuck bareback
O mercado ao ar livre em Praga cheirava a pão fresco, repolho fermentado e flores do campo. Radek Pozer era um dos vendedores, um homem de mãos calejadas e sorriso fácil, conhecido pelos queijos e salsichas defumadas que ele mesmo produzia em sua pequena aldeia nos arredores. Sua vida era um ritmo antigo e previsível: acordar com os galos, carregar a furgonete, negociar com as velhinhas e contar piadas secas aos clientes.
Um dia de primavera, um novo vendedor apareceu na barraca ao lado. Milos Hek. Ele não vendia comida, mas sim palavras. Sua barraca era uma instalação precária de livros empilhados, cartazes de filmes antigos e rolos de película. Milos era cinéfilo, um colecionador de histórias em celuloide, com óculos de aro fino e um cachecol sempre enrolado no pescoço, mesmo com o sol fraco. Seus olhos, de um cinza pensativo, viam o mundo como se fosse uma sequência de planos e enquadramentos.
O primeiro contato foi um conflito de culturas.
— Um homem precisa de mais do que imagens velhas para viver — Radek brincou, oferecendo a Milos um pedaço de salame.
— Um homem precisa de histórias para entender por que vive — Milos retrucou, aceitando o salame com um aceno de cabeça. — Este salame, por exemplo. Tem o sabor de… nostalgia. Do campo.
Radek ficou intrigado. Ninguém jamais tinha descrito seu salame como “nostalgia”.
Os dias seguintes viraram um ritual. Milos aparecia com um café extra para Radek. Radek, em troca, enchia o bolso do casaco de Milos com nozes e maçãs secas. Radek falava da terra, do tempero certo para a carne, do cheiro da chuva no feno. Milos falava de Fellini, da melancolia do cinema tcheco, da luz perfeita do crepúsculo.
Era o choque entre o substantivo e o adjetivo, entre o concreto e o etéreo. Mas, na quietude entre um cliente e outro, as barreiras caíam. Milos ajudava Radek a carregar caixas pesadas, suas mãos de intelectual tremendo com o peso. Radek, por sua vez, começou a notar a maneira como a luz da tarde dourada caía sobre os rostos no mercado, como Milos havia ensinado.
A atração era como um filme mudo — tudo era dito com os olhos, com os gestos, com a oferta de um café ou o ajuste de um cachecol.
O clímax chegou num fim de tarde, quando o mercado se esvaziou e o céu ficou cor de lavanda. Milos estava arrumando seus livros quando uma chuva súbita e gelada começou a cair. Radek, sem pensar, puxou-o para dentro de sua furgonete, que cheirava intensamente a fumo e a couro.
— Os livros vão se molhar — disse Milos, preocupado, enquanto a chuva batia no teto de metal.
— Livros secam — Radek respondeu, simplesmente. — Pessoas, não tanto.
Dentro daquela cabine apertada, com o vapor da respiração embaçando os vidros, a distância entre eles desapareceu. O primeiro beijo teve o gosto de café frio e o aroma de alho e papel antigo. Foi áspero e terno: a barba por fazer de Radek contra a pele lisa de Milos; o casaco encardido contra o blusão de lã fina.
Agora, a barraca de Radek tem um pequeno projector de filme antigo que Milos colocou num canto, projectando cenas mudas sobre os queijos e os sacos de batatas. E a coleção de Milos ganhou uma prateleira especial apenas para romances raros sobre a vida no campo, presenteados por Radek. Eles descobriram que o amor é a melhor tradução: consegue transformar o sabor da terra em poesia, e a beleza do cinema em algo que se pode tocar, e saborear, todos os dias.




