Que tesão – Vitor Her e Victor Vivone
A confusão era inevitável. Dois Victors no mesmo departamento de design. Para evitar o caos nos e-mails e reuniões, tornou-se necessário um adendo. E assim, eles foram distinguidos: **Vitor Her** e **Victor Vivone**.
Vitor Her era a quietude em pessoa. Cabelos sempre um pouco caídos sobre os olhos, ele se comunicava mais com esboços em seu tablet do que com palavras. Seu mundo era de cores suaves, linhas limpas e um silêncio profundo que escondia uma sensibilidade aguçada. Ele era o “Her” (dela, em inglês), um apelido que colegas brincavam ser por sua devoção ao trabalho, mas que, no fundo, refletia um coração que sempre se doava aos outros.
Victor Vivone era um furacão de energia. Chegava ao escritório com histórias, risadas altas e ideias que explodiam em todas as direções. Seu trabalho era ousado, colorido, quase barroco. “Vivone”, um sobrenome com ritmo, combinava perfeitamente com sua personalidade vibrante e expansiva.
Por meses, foram dois polos opostos que se respeitavam profissionalmente. Vivone achava Her muito fechado. Her achava Vivone… demais.
O projeto que os uniu era um grande cliente que pedia algo “entre o minimalista e o exuberante”. A tensão inicial foi palpável. Nas sessões de brainstorming, Vivone jogava ideias na parede como tinta. Her observava, anotava e, horas depois, enviava um e-mail com um conceito que refinava o caos de Vivone em algo elegante e poderoso.
Foi durante uma dessas sessões noturnas, com o escritório vazio e a cidade iluminada através do vidro, que a dinâmica mudou. Vivone, esgotado de tanto falar, parou para observar Her trabalhar. Viu a concentração absoluta em seu rosto, o cuidado com que ele ajustava cada pixel.
“Como você faz?” Vivone perguntou, sua voz mais baixa do que o normal. “Como pega todo o meu… barulho… e transforma em harmonia?”
Her ergueu os olhos, surpreso. Ninguém nunca lhe tinha feito aquela pergunta. “Porque o seu barulho tem uma música,” ele respondeu, simplesmente. “Eu só retiro o excesso para que todos possam ouvi-la.”
Aquela foi a primeira noite em que ficaram no escritório sem ser por obrigação. Falaram sobre tudo, menos sobre trabalho. Her descobriu que por trás da persona extrovertida de Vivone, havia um homem com um medo profundo de não ser suficientemente visto. Vivone descobriu que por trás da quietude de Her, havia um universo de observações afiadas e um humor seco e delicioso.
O amor não foi uma declaração, mas uma transição suave. Foi Vivone aprendendo a apreciar o silêncio ao lado de Her. Foi Her aprendendo a se soltar e a abraçar um pouco do caos colorido que Vivone trazia para sua vida.




