Pigboy turned into a breeding toy – Gabriel Paxxeco, Pigboy
O ar na Feira Agropecuária Estadual era uma mistura espessa de poeira, algodão-doce e o rico, terroso cheiro de animais. Gabriel Paxxeco, de terninho impecável e tablet na mão, sentiu uma pontada de nostalgia. Ele havia fugido daquela vida, tornando-se um *consultor de inovação*—um título chique para convencer fazendeiros teimosos a adotarem novas tecnologias. A fazenda de seu pai era um passado distante.
Seu cliente atual, no entanto, era um pesadelo logístico. A Granja “Valle Verde” não tinha registros digitais, nenhum sistema de gestão. Ele foi orientado a encontrar o gerente, um tal de “Pigboy”.
O cheiro o guiou até os celeiros dos suínos. E lá, no meio da agitação dos animais, estava ele. Um homem com macacão manchado de barro, musculatura definida pelos trabalhos pesados, cantarolando baixinho para uma porca prenha que ele examinava com mãos surpreendentemente gentis. Seus braços fortes continham o animal inquieto com uma calma absoluta.
“Porca nervosa, primeiro parto,” o homem explicou para um ajudante, sem perceber Gabriel. “Ela precisa de calma, não de força. Segura assim… sente?” Sua voz era áspera, mas o tom era incrivelmente doce.
“Desculpe,” Gabriel interrompeu, tentando manter a profissionalidade acima do cheiro. “Estou procurando pelo Pigboy.”
O homem se virou. Seus olhos, da cor do âmbar, focaram em Gabriel com uma curiosidade desarmante. Um sorriso lento abriu-se em seu rosto sujo de terra.
“É o senhor mesmo. Pode chamar de Eli.” Ele limpou a mão no macacão antes de estendê-la. “E você deve ser o ‘cérebro’ de São Paulo que veio nos salvar.”
O aperto de mão foi firme, a palma áspera como lixa. Gabriel sentiu um calor subir por seu braço. Ele lançou seu discurso preparado sobre eficiência, nuvem de dados e rastreabilidade.
Eli escutou pacientemente, acariciando a orelha da porca.
“Interessante,” ele disse quando Gabriel terminou. “Mas o seu sistema sabe distinguir o choro de fome de um leitão do choro de frio? Sabe qual é a porca que gosta que cantem para ela?”
Gabriel ficou sem palavras. Seus gráficos e planilhas de repente pareceram incrivelmente vazios.
“Venha,” Eli disse, seu olhar suavizando. “Deixe-me mostrar a você como a *minha* nuvem funciona.”
Ele passou a tarde guiando Gabriel pelos celeiros. Mostrou-lhe como a poeira no focinho de um porco podia indicar um problema respiratório, como o som dos animais à noite contava a história do bem-estar do rebanho. Era um conhecimento ancestral, visceral, que nenhum aplicativo podia capturar.
Gabriel, o “cérebro”, sentiu-se humilhado pela inteligência instintiva daquele homem. E, para seu próprio espanto, completamente cativado.
Ao pôr do sol, sentados na cerca de um pasto, Eli pegou uma garrafa térmica de café.
“Então, ‘Paxxeco’,” ele disse, o apelido soando estranhamente íntimo em sua boca. “Ainda acha que pode colocar tudo o que importa aqui dentro em uma dessas suas planilhas?”
Gabriel olhou para Eli, para a sujeira em suas bochechas, para a profunda e quieta paixão em seus olhos âmbar, e sentiu algo em seu peito perfeitamente organizado se desfazer em um caos maravilhoso.
“Não,” Gabriel admitiu, sua voz um sussurro. “Acho que algumas coisas… você só aprende cantando para os porcos.”
Eli sorriu, um verdadeiro sorriso de orelha a orelha que fez o coração de Gabriel dar um salto. E naquele momento, entre o cheiro de terra e o pôr do sol, o executivo de cidade e o Pigboy encontraram um terreno comum—não em dados ou na sujeira, mas no inesperado e frágil espaço que se abria entre eles.




