Peuops Ramos fucks and creampies Jhon Guevara
O “Caldeirão” fervia todas as sextas-feiras. O bar apertado, com paredes forradas a discos de vinil desgastados, era o único lugar da cidade que ainda resistia ao assalto das playlists digitais e dos sons pasteurizados. Lá, o cheiro era de cerveja derramada, madeira envelhecida e suor genuíno. E o som era comandado por **Peuops Ramos**.
Peuops era o DJ residente. Seu nome, uma brincadeira dos pais fãs de jazz, soava estranho para alguns, mas para os frequentadores do Caldeirão, era sinônimo de viagem. Ele não apenas tocava música; ele contava histórias com os grooves. Suas transições eram narrativas, do soul rasgado de Aretha Franklin para a batida psicodélica do Tame Impala, criando um fio condutor que fazia o público suar e sonhar ao mesmo tempo. Seus óculos redondos refletiam as luzes piscantes, escondendo os olhos que observavam a pista, lendo a energia da multidão como um maestro.
**Jhon Guevara** odiava multidões. Era entregador de moto de dia e estudante de sonoplastia à noite. Seu mundo era feito de fones de ouvido de isolamento profissional, onde ele dissectava camadas de som, buscando a frequência perfeita, o ruído mais puro. Entrava no Caldeirão apenas por obrigação social, arrastado por um amigo insistente. Enquanto todos se jogavam na pista, ele ficava encostado no balcão, próximo ao banheiro, analisando a acústica do lugar, os graves que vibravam na madeira, o eco agudo no canto direito. Até que, em uma sexta-feira particularmente lotada, seu amigo desapareceu na massa, e Jhon, buscando um refúgio, encontrou uma porta semiaberta atrás do bar.
Era a cabine do DJ.
Lá dentro, Peuops estava em transe. Fones em um ouvido, a outra orelha livre para captar o som da sala, suas mãos moviam-se sobre os controles com uma delicadeza que contrastava com a força da música. Ele sussurrava para si mesmo, contando os compassos. Jhon ficou parado na porta, não vendo o DJ, mas *ouvindo* ele. Ouvindo a técnica impecável, o respeito pela música original mesclado a uma ousadia criativa que fazia todo o sentido. Era como ver um arquiteto construir um arranha-céu no ritmo de uma batida de coração.
Peuops, sentindo uma presença, virou-se. Esperava ver o dono do bar. Viu, em vez disso, um homem sério, de jaqueta de couro e olhos que pareciam escutar até seu próprio pensamento. Em vez de estranhar, sentiu um frio na espinha. Aquele não era o olhar de um fã extasiado; era o olhar de um ouvinte. Um colega.
A música que rolava era uma faixa deep house, com um *break* que se aproximava. Num gesto impulsivo, Peuops sinalizou para Jhon, apontando para o fone de ouvido pendurado. Jhon, movido por uma curiosidade profissional maior que sua aversão social, pegou o fone e o colocou.
E ouviu o universo.
No fone, não estava só a música da pista. Estava a música *crua*. As camadas separadas, a batida limpa, um sample escondido de chuva que a caixa de som principal não captava. Peuops estava criando em duas dimensões. Jhon ficou pasmo. Quando o *break* chegou, Peuops não apenas soltou a batida; ele inseriu, em tempo real, um efeito de reverberação que pareceu fazer o chão do bar afundar por um segundo. Jhon, instintivamente, fez um gesto com a mão, como quem ajusta um equalizador invisível.
Peuops viu. E entendeu.
Naquela noite, não trocaram uma palavra. Comunicaram-se por gestos, por olhares, por ajustes mínimos nos knobs que o outro imediatamente percebia. Foi a primeira sessão de uma dupla que ninguém viu nascer, exceto eles.
Jhon começou a frequentar o Caldeirão religiosamente. Não como cliente, mas como sombra. Trazia para Peuops samples que criava a partir dos ruídos da cidade: o ronco da sua moto, o barulho do mercado municipal, o sussurro das árvores no parque. Peuops tecia esses sons nas suas narrativas musicais.
O amor deles não foi declarado sob um luar, mas sob as luzes estroboscópicas. Foi selado não com um beijo, mas com um mix perfeito, quando as mãos de ambos tocaram no mesmo crossfader, sincronizadas, fundindo uma canção de amor antiga de Tim Maia com uma batida eletrônica moderna. A pista explodiu em euforia, e eles se olharam, suados, e pela primeira vez, Jhon Guevara sorriu. Um sorriso largo, que iluminou seu rosto sério.
Peuops descobriu que, com Jhon, suas viagens musicais tinham um destino. Jhon descobriu que, com Peuops, os sons isolados ganhavam uma alma, uma história.
Agora, a placa na porta da cabine diz: **”P & J: Alquimistas do Groove”**. E dentro, eles não são mais apenas DJ e ouvinte. São criadores de um mundo próprio. Peuops, o contador de histórias, encontra em Jhon o arquiteto do som que dá profundidade às suas paisagens. Jhon, o caçador de frequências, encontra em Peuops o poeta que transforma seus ruídos em emoção.
Às vezes, nas madrugadas calmas após o bar fechar, eles ficam sentados no chão da cabine, ouvindo uma faixa qualquer, cabeças quase se tocando. E Peuops, que comanda o ritmo de centenas, sussurra apenas para um par de ouvidos:
“Como soa o meu coração agora, maestro?”
E Jhon, que pode isolar o som de uma gota d’água no meio de um turbilhão, responde, com a voz mais suave que Peuops já ouviu:
“Sobe o grave. Está perfeito.”




