Peralta Silva, Philipe Coutinho and Thiago Morais – threesome after a dip

O aroma de café fresco e tinta fresca enchia o ar da pequena livraria “O Pássaro de Papel”. Peralta Silva, a nova proprietária, organizava pilhas de livros com um misto de nervosismo e empolgação. Herdar a loja da tia era um sonho, mas a solidão da nova cidade pesava como um tijolo.
Foi então que o sino da porta tilintou. Dois homens entraram, envolvidos em uma discussão animada.
“Eu te digo, Thiago, aquele capítulo é uma obra-prima do realismo mágico!”, disse um, de olhos vivos e gestos rápidos. Era Philipe Coutinho.
“Obra-prima é o seu exagero, Phil. O protagonista é insuportavelmente ingênuo”, rebateu o outro, Thiago Morais, com uma voz mais calma e um sorriso tranquilo no canto dos lábios.
Eles pararam ao ver Peralta. A discussão morreu, substituída por um silêncio súbito e carregado.
“Desculpe-nos pelo barulho”, disse Thiago, seu olhar suave encontrando o de Peralta. “Estávamos apenas… debatendo literatura.”
“É a especialidade deles”, explicou Peralta, sentindo um calor subir por seu pescoço. “A livraria é nova. Bem, eu sou nova. A dona anterior era minha tia.”
Philipe, recuperando a velocidade, estendeu a mão. “Philipe Coutinho. E este é o cético do Thiago Morais. Adoramos um bom debate e um bom livro.”
A partir daquele dia, as visitas deles tornaram-se uma rotina. Philipe era fogo: entusiasta, dramático, sempre trazendo histórias de lugares distantes e enredos complexos. Ele desafiava Peralta, apresentando-a a autores que ela nunca ousara ler. Thiago era terra: sólido, observador, com uma profundidade silenciosa que se revelava em pequenos gestos – um marcador de páginas deixado em um livro que ela mencionara querer ler, um café trazido exatamente como ela gostava.
Peralta se viu no centro de um triângulo delicado. O coração dela acelerava com a energia contagiante de Philipe, mas encontrava um lar na calma constante de Thiago. Ela amava as discussões apaixonadas com o primeiro e os silêncios confortáveis com o segundo.
A tensão veio à tona em uma noite chuvosa. Os três estavam na livraria, cercados por pilhas de livros. Philipe, eufórico, defendia as virtudes do amor grandioso e épico, da paixão que consumia tudo.
“O amor tem que ser um furacão, Phil!”, ele exclamou, seus olhos brilhando. “Algo que te tira do chão!”
Thiago, que observava a chuva bater na vitrine, balançou a cabeça lentamente. “Um furacão destrói, Phil. O amor… o amor deveria ser a fundação da casa que você constrói para resistir a qualquer tempestade. Deve ser firme, confiável.”
Seus olhos se encontraram com os de Peralta, e ela sentiu a verdade das palavras dele como um choque. A paixão de Philipe era eletrizante, mas era a constância de Thiago que havia preenchido os vazios da sua nova vida. Era ele quem lembrava que ela precisava fechar a loja para jantar, quem consertava a prateleira quebrada sem ser perguntado, cuja simples presença a acalmava.
Philipe viu a passagem da compreensão no rosto de Peralta. Seu rosto caiu por um instante, mas então um sorriso resignado e genuíno surgiu. “Parece que o cético venceu o debate desta vez”, disse ele, sua voz suave, sem rancor. Ele deu um tapinha no ombro do amigo. “Cuida bem dela.”
E saiu, deixando para trás o som da chuva e um silêncio pesado.
Thiago se aproximou de Peralta. “Eu não sou um furacão”, ele sussurrou, sua mão encontrando a dela sobre o balcão.
“Eu não quero um furacão”, ela respondeu, entrelaçando os dedos com os dele. “Eu quero a terra firme.”
Anos depois, a livraria “O Pássaro de Papel” prosperava, agora com uma seção de livros de arquitetura (paixão de Thiago) e outra dedicada a romances de aventura (uma homenagem a Philipe, que mandava livros de todos os cantos do mundo). Peralta e Thiago haviam construído sua própria história, não nas páginas de um romance épico, mas no dia a dia compartilhado, nas estantes que montavam juntos, nos cafés da manhã em silêncio.
Era um amor feito não de faíscas efêmeras, mas de raízes profundas. Um amor que, como a boa literatura de Thiago e a paixão de Philipe, era ao mesmo tempo tranquilo e infinito. E, no final, era tudo que Peralta sempre quisera.