Pablo Acosta and Chino fuck

Pablo Acosta era um afinador de pianos. Suas mãos, sempre limpas e precisas, conheciam a anatomia da madeira e do feltro como um cirurgião conhece o corpo. Ele ouvia o que os outros não ouviam: a melancolia de uma corda levemente desafinada, o abafamento de um martelo desgastado, a história contada no eco de cada tecla. Era um homem de poucas palavras, que vivia em um mundo de harmonia pura e absoluta.

Chino era o oposto. Dono do bar El Rincón del Blues, dois quarteirões abaixo, sua vida era um furacão de sons: o tilintar de garrafas, o murmúrio das conversas, o ronco do velho compressor da geladeira e, principalmente, a música. À noite, ele subia no pequeno palco e transformava sua guitarra em uma extensão da alma, com solos rasgados e canções roucas que falavam de estradas e corações partidos. Seu sorriso era fácil, mas seus olhos guardavam a profundidade de quem tinha visto muito.

Seus mundos colidiram por causa de um piano velho. Um Steinway de cauda, enferrujado e esquecido, que Chino comprou em um leilão por um preço simbólico, movido por um impulso poático. “Vai dar charme ao lugar”, disse aos amigos. O problema era que o piano não apenas desafinava; ele estava doente, emitindo gemidos metálicos que desafiavam qualquer tentativa de música.

Pablo foi a última esperança. Quando entrou no bar, de dia, o silêncio do lugar fechado pareceu envolvê-lo. Ele viu o gigante de madeira no canto e, sem cumprimentar direito, foi até ele. Abriu a tampa, passou os dedos sobre as teclas de marfim amarelado e fechou os olhos.