Nik Fros tops Javier des Leon
O estúdio de Nik Fros era um caos organizado. Latas de tinta spray de todas as cores se amontoavam em cantos, sketches de personagens fantásticos cobriam as paredes e o cheiro acre de tinta fresca se misturava com o de café velho. Nik era um artista de rua, um caçador de muros cinzas, transformando-os em sonhos vibrantes. Sua vida era solitária por escolha, um refúgio necessário para uma mente que via demais.
Tudo mudou numa tarde de outono, quando Nik decidiu pintar uma fachada cega num prédio antigo do bairro de León. O desenho era ambicioso: um lobo com pelagem de galáxia, correndo entre árvores de raízes luminosas. Enquanto trabalhava, focando nos detalhes das estrelas na garupa do animal, ele sentiu uma presença.
Era um homem, parado na calçada oposta, observando não com a curiosidade rápida dos transeuntes, mas com a atenção profunda de um estudioso. Ele usava um casaco de lã elegante e segurava um caderno de capa de couro. Javier des Leon.
Nos dias seguintes, Javier tornou-se uma constante. Aparecia sempre no mesmo horário, parava no mesmo lugar e observava em silêncio. A princípio, Nik sentiu-se invadido. Sua arte era um diálogo íntimo entre ele e a parede; um espectador tão persistente era um intruso. Mas a expressão de Javier não era de julgamento, era de reverência.
No quarto dia, a curiosidade venceu o desconforto. Nik desceu da escada, manchado de tinta, e se aproximou.
“Está procurando algum erro?”, perguntou Nik, a voz mais áspera do que pretendia.
Javier sorriu, um gesto tranquilo que chegou aos seus olhos castanhos. “Pelo contrário. Estou procurando a perfeição. Cada linha sua é uma decisão. É fascinante.”
Javier era um restaurador de livros antigos. Passava seus dias em um silêncio igual ao de Nik, mas entre folhas de pergaminho e letras desbotadas, salvando histórias do esquecimento. Aquele caderno que carregava era para esboços de detalhes arquitetônicos da cidade, um hobby que o mantinha conectado à beleza ao seu redor.
A partir daquele dia, as visitas silenciosas transformaram-se em conversas. Javier trazia dois cafés e um pedaço de bolo. Nik, por sua vez, explicava as nuances de sua arte, a escolha das cores, a história por trás do lobo galáctico. Descobriram que suas vocações, aparentemente opostas, eram irmãs: ambos dedicavam a vida a criar e a preservar beleza.
