Nik Fros owns Anderson Parker
O ar no “Cosmic Cup” sempre cheirava a café torrado e ozônio. Nik Fros passava um pano no balcão de aço polido, observando a chuva de meteoros dançar do lado de fora da cúpula de vidro da cafeteria espacial. Era uma visão rotineira, mas nunca perdia o encanto. Pelo menos, não até aquele dia.
A campainha da porta deslizante tilintou suavemente. Um homem entrou, e o ambiente mudou. Ele não usava o uniforme padrão dos pilotos ou o traje corporativo dos executivos. Vestia roupas simples de tecido orgânico, manchadas de tinta azul e roxa. Seus olhos, porém, eram as constelações mais profundas que Nik já tinha visto.
“Chá de Terra, por favor. O de jasmim”, o homem pediu, sua voz era calma, um contraste com o zumbido constante dos propulsores da estação.
“Chá de Terra? Isso é raro por aqui”, Nik comentou, preparando a xícara. “Só temos porque o dono é um nostálgico.”
“É para o meu trabalho”, o homem explicou, sem oferecer mais detalhes.
Enquanto o chá infusionava, Nik leu a identificação no pulso do homem: *Anderson Parker. Artista Residencial, Setor Gamma-9.*
Um artista. Isso explicava as roupas e o ar distante. Nik, um ex-engenheiro de propulsão que trocara a agitação das naves pela quietude do café, sentiu uma curiosidade imediata.
Anderson voltou no dia seguinte. E no outro. Sempre no mesmo horário, sempre pedindo o chá de jasmim. Ele trazia um *sketchbook* digital e desenhava, seus dedos movendo-se com uma graça que hipnotizava Nik. Ele desenhava não as naves ou as estrelas, mas as pessoas. Capturava o cansaço nos ombros de uma piloto, a ansiedade nos olhos de um turista, a solidão num rosto refletido no vidro.
Um dia, Anderson olhou diretamente para Nik enquanto ele preparava um café com leite para uma cliente. Nik sentiu o olhar como um toque físico. Quando a cliente saiu, Anderson se aproximou do balcão.
“Você tem as mãos de um artista”, Anderson observou.
Nik riu, secando uma xícara. “São mãos de barista.”
“São mãos que entendem de precisão e cuidado. Você conserta coisas”, Anderson disse, e não era uma pergunta. “Eu apenas as observo.”
Foi o início. Anderson começou a ficar depois do horário de pico, e Nik descobriu que por trás da quietude havia uma mente afiada e um humor seco e encantador. Anderson falava sobre a teoria das cores como se fosse poesia, e Nik explicava a física por trás dos buracos de minhoca com a paixão de um contador de histórias. Eles eram de galáxias diferentes, mas naquele café, suas órbitas se alinhavam.
Nik mostrou a Anderson seu projeto secreto: um pequeno motor iônico que ele estava recalibrando no porão, um projeto de amor que não tinha propósito comercial, apenas a pura alegria da criação. Anderson não fez perguntas técnicas. Ele apenas se inclinou e desenhou o motor no seu *sketchbook*, transformando peças metálicas em uma obra de arte fluida e orgânica.
“Você vê a beleza na função”, Anderson sussurrou, seus dedos manchados de carvão virtual tocando levemente o desenho na tela. “Eu tento encontrar a função na beleza.”




