Milo Galician and Rafinha fuck
						O sol baixo da tarde dourava as fachadas de pedra da Cidade Velha de Santiago de Compostela. Milo Galician via aquela paisagem todos os dias da janela da sua pequena livraria, *O Caminho das Letras*. Ele era um homem de rotinas sólidas como os edifícios ancestrais ao seu redor: café às 10h, almoço às 14h, fechamento às 20h. Conhecia cada rachadura na calçada, cada som de cada sino de igreja. Sua vida era um mapa bem desenhado, e ele não se aventurava além das suas fronteiras.
Até que Rafinha tropeçou na sua porta – literalmente.
Ele era uma tempestade de cores e movimento. Cabelos cacheados escapando de um boné, mochila desgastada, e um violão nas costas. Um *brasileiro*, percebeu Milo pelo sotaque cantado, mesmo no seu espanhol travado. Rafinha esbarrara no limiar da loja, distraído ao tentar ler um mapa.
“Desculpa, mano! Tá aberto aí?” ele perguntou, com um sorriso que parecia desafiar a seriedade da pedra da cidade.
Milo, um pouco atordoado, apenas acenou.
Rafinha era um peregrino. Não no sentido tradicional, religioso, mas um andarilho da alma. Tinha vindo de Salvador, Bahia, seguindo o Caminho de Santiago não por fé, mas por busca. Ele não procurava Deus, mas histórias. E, naquela livraria empoeirada, ele encontrou uma que não esperava.
Nos dias que se seguiram, Rafinha tornou-se uma presença constante. Ele aparecia no final da tarde, cheirando a sol e estrada, e se instalava num canto para folhear livros de poesia. Milo, inicialmente irritado com a interrupção da sua paz, começou a estranhar os dias em que o brasileiro não aparecia.
O amor chegou devagar, como a luz da manhã invadindo a catedral. Começou quando Rafinha pegou o violão e, sem cerimônia, começou a tocar uma modinha baiana, suave e melancólica. A música preencheu a livraria silenciosa, dançando entre as pilhas de livros, e tocou um lugar em Milo que ele nem sabia estar adormecido.
Milo, por sua vez, começou a compartilhar as histórias da Galícia. As lendas dos *meigas*, as festas, o som da gaita de foles. Ele, que era a própria essência daquela terra, tornou-se o guia de Rafinha não apenas pelas ruas, mas pela sua alma.
A diferença entre eles era uma ponte, não um abismo. A solidez de Milo deu um porto seguro à natureza nômade de Rafinha. E a alegria contagiante de Rafinha ensinou Milo que os mapas existem para serem refeitos, que as rotinas podem ser quebradas por algo mais doce.
A confissão aconteceu num banco de praça, sob as estrelas. Rafinha iria partir no dia seguinte, continuando seu caminho.
“Não sei se consigo voltar para o Brasil sem te levar comigo,” Rafinha disse, sua voz mais baixa e séria do que o normal.
Milo olhou para as mãos, que sempre haviam segurado livros com tanta segurança, e agora tremiam levemente. Então, ele as estendeu e cobriu as de Rafinha.
“Talvez o meu caminho não seja feito só de pedras,” sussurrou Milo. “Talvez ele possa ser feito de estradas também.”
O beijo deles não foi um fim, mas um novo começo. Não sob a abóbada de uma catedral, mas sob o céu infinito, prometendo que o amor, como o caminho de um peregrino, é uma jornada que se faz melhor quando se encontra um companheiro para a estrada.
				



