Me come logo vai – CurvedKing e Matt Dubbe
O mundo de CurvedKing era feito de pixels e possibilidades. Como um arquiteto de realidades virtuais, ele construía catedrais de sonhos no espaço digital, mundos onde a gravidade era uma sugestão e a beleza uma lei. Seus dias eram solitários, iluminados apenas pela luz azulada das telas, sua coroa um fone de ouvido com cancelamento de ruído.
Matt Dubbe era ancorado na terra. Literalmente. Dono de um pequeno viveiro de plantas chamado “Oásis Dubbe”, suas mãos estavam sempre sujas de terra, suas camisas manchadas de clorofila. Ele conversava com as orquídeas e entendia o humor das suculentas. Sua vida era um ciclo lento e gratificante de crescimento e renovação.
Eles eram vizinhos de prédio, separados por uma parede e por universos inteiros.
O primeiro contato foi um desastre botânico. CurvedKing, em uma rara tentativa de trazer “vida real” para seu apartamento estéril, comprou uma rara samambaia-de-metro online. Em uma semana, a planta estava morrendo de tristeza, com folhas marrons e caídos. Desesperado, e vendo a planta como um código complexo que ele não conseguia decifrar, ele correu para o viveiro com a samambaia agonizante.
Matt pegou o vaso com uma gentileza que fez CurvedKing se sentir ainda mais desajeitado.
“Ah, a *Nephrolepis exaltata*,” disse Matt, seu tom era calmante, como o sussurro de folhas ao vento. “Ela não está morrendo. Ela está com saudades de casa. Está pedindo por um pouco mais de umidade e um lugar com luz indireta.”
Enquanto Matt reanimava a planta, explicando sobre drenagem, fotossíntese e o ciclo da água, CurvedKing o observou, fascinado. Aquele homem não estava apenas cuidando de uma planta; ele estava conversando com um universo vivo que CurvedKing nunca soube como acessar.
Uma amizade brotou, lentamente. CurvedKing começou a frequentar o viveiro, inicialmente para lições de sobrevivência botânica, depois pelo som da voz de Matt. Ele, que passava dias construindo florestas digitais imponentes, estava aprendendo a maravilhar-se com o milagre minúsculo de um novo broto.
Matt, por sua vez, foi apresentado aos mundos de CurvedKing. Colocando um headset de realidade virtual, ele caminhou por cidades flutuantes e jardins de cristal que seu amigo havia criado. “É lindo,” ele sussurrou, sua mão tentando tocar uma flor de luz que não existia. “Mas não tem cheiro. Não tem a textura áspera da casca de uma árvore ou o peso úmido da terra.”
Foi a crítica mais profunda e amorosa que CurvedKing já recebera.




