Mateus Lontero, Anderson Salgado and Arabk have a threesome

O vento soprava frio nas ruas de paralelepípedo do bairro da Mooca, carregando o cheiro doce de pão fresco das padarias e o aroma amargo da cerveja que escorria nos bares. Mateus Lontero caminhava entre a multidão, seu sobretudo preto aberto balançando como asas de um corvo agitado. Ele procurava por um rosto. O rosto de Anderson Salgado.
Havia um mês, na mesma feira de arte onde expunha suas fotografias em preto e branco, Mateus encontrara Anderson. Não foi um encontro comum. Anderson estava parado diante de uma foto sua, uma imagem de um velho carrossel abandonado, e chorava. Silenciosamente. As lágrimas escorriam por seu rosto marcado pela vida, um contraste gritante com a força que seus ombros largos sugeriam.
“Desculpe”, Anderson dissera, envergonhado, ao perceber Mateus observando. “É que… esta foto me lembra de algo que eu achava que tinha esquecido.”
Aquele “algo” era Arabk.
Arabk não era uma pessoa. Era um lugar. Um velho sítio nos arredores da cidade onde os dois, Anderson e sua irmã gêmea, Arabela, passavam as férias de infância. Arabk era como Arabela, com sua dificuldade de falar, chamava o sítio. O nome colou. Para Anderson, Arabk era sinônimo de luz, de verões intermináveis e da presença radiante de sua irmã. Arabela morrera jovem, num acidente de carro, e com ela uma parte de Anderson se apagara.
A fotografia de Mateus, com seu carrossel solitário e suas cores desbotadas, capturara a essência daquela perda: a felicidade como um eco distante, um fantasma de alegria.
Naquela noite, na feira, Mateus e Anderson conversaram por horas. Mateus, o artista solitário que encontrava beleza na melancolia, e Anderson, o empresário bem-sucedido que carregava um deserto dentro do peito, descobriram uma ressonância inesperada. Nos dias que se seguiram, o amor brotou. Um amor tranquilo, feito de silêncios compreendidos, de mãos dadas em frente a lareiras imaginárias e de memórias compartilhadas que não eram, originalmente, de ambos.
Mateus começou um projeto secreto. Usando as descrições vívidas de Anderson, ele viajou para o sítio abandonado, o tal Arabk. Com sua câmera, ele não fotografou a decadência, mas a beleza teimosa que insistia em existir: a hera cobrindo a casa de fazenda, o riacho que ainda corria cantarolando baixo, o banco de madeira sob a mangueira onde Anderson e Arabela liam histórias.
Ele revelou as fotos em uma pequena sala escura, criando uma série que não era sobre a perda, mas sobre a permanência. Sobre como o amor deixa uma marca no mundo, um rastro de luz que a ausência não consegue apagar totalmente.