Na Rua das Paredes que Respiravam, onde o musgo crescia em padrões de código antigo e a chuva cheirava a óleo de máquina e jasmim, ficava a loja de Marcus McNeill. Seu letreiro, desbotado, dizia apenas “Ecossistemas & Memórias, sob encomenda”. Marcus não vendia plantas; ele vendia ambientes completos em miniatura. Terrários que não eram de vidro, mas de campos de força sutil, contendo desertos em miniatura onde a areia cantava à noite, florestas em copos de chá onde chovia a cada três horas exatas, ou um cantinho do Ártico que emitia o silêncio absoluto de uma aurora boreal. Cada criação era uma cápsula do tempo de um lugar que talvez nunca tivesse existido, ou de um sentimento que alguém queria preservar.
Seu cliente mais assíduo – e seu maior enigma – era Victor Vivone. Victor não era um colecionador comum. Ele era um arquiteto de realidades aumentadas, o homem por trás dos “Céus Sobrepostos” que todos em Nova Helvetica usavam em seus óculos, transformando o céu cinza da cidade em fantasias tropicais ou cenários góticos. Victor era impecável, sinônimo de sucesso, mas visitava a loja de Marcus com a fome secreta de um viciado.
