Machine or Man with Shay Michaels and Jake Nicola
O vento salgado do cais de Brighton chicoteava o cabelo escuro de Shay Michaels enquanto ele ajustava a câmara, capturando o ângulo perfeito do pôr-do-sol que incendiava o mar. Era um fotógrafo freelance, um caçador de luz e momentos efémeros. Foi durante essa caça que o seu olhar, através da objetiva, encontrou Jake Nicola.
Jake estava encostado à amurada do seu barco de pesca, *O Destemido*, não como um capitão endurecido, mas como uma parte orgânica daquele universo marítimo. As suas mãos, calejadas pelas cordas e redes, afinavam uma velha guitarra acústica. E então, ele começou a cantar. A voz não era perfeita, mas era quente, cheia de histórias de marés e solidão, e chegou até Shay como uma onda suave, inundando-o por completo.
Shay baixou a câmara. O momento era grande demais para ser apenas uma fotografia.
Semanas depois, Shay reuniu coragem para se aproximar. “A sua música… é linda,” disse, sentindo-se estranhamente vulnerável. “Gostaria de a fotografar. A si e ao seu barco. Há uma história aqui.”
Jake ergueu os olhos, um sorriso fácil a iluminar o seu rosto queimado pelo sol. “Chamam-lhe *O Destemido*, mas às vezes acho que é eu quem precisa de coragem,” brincou, acenando para Shay subir a bordo.
Essa primeira sessão de fotos transformou-se em muitas outras. O barco tornou-se no seu santuário. Shay capturava a vida de Jake: as redes lançadas ao amanhecer, as mãos a reparar velhas amarras, o perfil contra o horizonte infinito. Jake, por sua vez, enchia aquele espaço silencioso com música, dedicando canções antigas a Shay, que as ouvia, encostado ao mastro, com o coração a bater no ritmo das cordas.
A atração entre eles era como a maré: constante, puxando um para o outro com uma força que não podiam negar. Num final de tarde, com o céu pintado de roxo e laranja, Shay mostrou a Jake as fotografias no seu portátil.
“Vejo o que ninguém mais vê,” sussurrou Shay, percorrendo as imagens que capturavam não só o pescador, mas o poeta, o sonhador. “Vejo-te.”
Jake ficou em silêncio por um momento, o seu olhar a percorrer o rosto de Shay. “E eu,” respondeu, a sua voz mais suave do que o sussurro das ondas contra o casco, “sinto-me visto.”
Foi o único convite que precisaram. O primeiro beijo não foi no cais movimentado, mas no convés de *O Destemido*, balanceando suavemente com a maré. Sabia a sal, a café quente e a uma verdade há muito adiada. A câmara de Shay ficou esquecida no banco, pois aquele era um momento que só o coração poderia capturar.




