Liam Arnolds, Dragon Rojo and Victor Fonseca have a threesome
O Dragon Rojo não era um lugar, era um organismo. Um bar de karaokê espremido entre um lavandería e uma loja de penhores, cujas paredes respiravam o vapor do conhaque barato, o suor de mil performances e o eco desafinado de almas solitárias. Seu coração, sua força motriz e seu dono era Victor Fonseca. Ex-engenheiro de elevadores, ele havia canalizado sua obsessão por movimento vertical e harmonia mecânica para uma nova função: maestro das emoções alcoólicas. Ele controlava a luz do palco, o volume dos vocais, a ordem das músicas, criando uma coreografia perfeita para a catarse noturna de seus clientes.
E, todas as quintas-feiras, às 22h em ponto, um espectador fixo: Liam Arnolds.
Liam era um ilustrador de livros infantis, um homem que preenchia seus dias com dragões amigáveis e florestas encantadas. Às noites, porém, um vazio silencioso se instalava em seu apartamento minúsculo. Ele vinha ao Dragon Rojo não para cantar, mas para observar. Sentava-se no mesmo banco no fim do balcão, pedia um único uísque com gelo e desenhava, em um caderno Moleskine gasto, as pessoas ao redor. Transformava a mulher chorando em My Heart Will Go On em uma sereia; o homem careca e barulhento em um leão marinho desastrado.
Seus olhos, mais do que tudo, eram atraídos para Victor. Adorava a serenidade com que ele navegava pelo caos, a mão firme que abaixava o microfone quando uma briga ameaçava começar, o quase-imperceptível sorriso quando alguém acertava uma nota particularmente difícil. Liam desenhou Victor dezenas de vezes: como um alquimista entre garrafas, como um capitão no leme de seu barco de luzes piscantes, como uma figura tranquila no centro de uma tempestade emocional.
Por meses, foi um balé silencioso. Liam observava, desenhava, bebia seu uísque. Victor notava o homem quieto no canto, os dedos sempre em movimento, o olhar intenso mas nunca intrusivo. Sentia uma calma estranha quando aqueles olhos cor de avelã repousavam sobre ele, diferente da atenção barulhenta dos outros.
