Jay Stryker and Grant Ducati – Chapter 2
O aroma de café velho e óleo de motor era o perfume oficial da oficina de Stryker, um lugar onde carros moribundos ganhavam uma segunda chance. Jay Stryker, com as mãos calejadas e um olhar que desmontava motores, era o feiticeiro por trás da magia. Sua vida era uma rotina previsível de chaves de roda e parafusos soltos, até que um dia, o estrondo de uma moto quebrou a monotonia.
A máquina era uma beleza italiana de 1972, uma Ducati enferrujada, com o tanque amassado e o motor em silêncio. E seu dono era ainda mais impressionante. Grant Ducati não era um nome, era uma declaração. Usava um blazer de veludo sobre uma camiseta de banda, e seus olhos tinham a mesma cor do aço escovado. Trazia consigo o cheiro do mundo exterior, de estradas abertas e galeras de arte.
— Ela é teimosa — Grant disse, batendo levemente no tanque da moto. — Assim como eu. Acho que por isso nos damos tão bem.
Jay apenas acenou, secando as mãos em um pano sujo. — Teimosa eu posso consertar. O problema é quando é complicada demais.
Os dias se transformaram em semanas, e a oficina tornou-se um palco para um balé peculiar. Grant aparecia no final da tarde, sempre com um café extra na mão e uma história sobre um quadro que estava restaurando ou uma música que o estava assombrando. Ele falava de cores e composições. Jay escutava, enroscado no capô de um carro, respondendo com explicações sobre torque e sincronização de válvulas.
Era um diálogo entre mundos opostos, mas que, inexplicavelmente, se encaixavam. Jay ensinou Grant a diferença entre uma chave inglesa e uma catraca. Grant, por sua vez, pegou as mãos sujas de graxa de Jay e mostrou as linhas e cicatrizes, dizendo que eram um mapa de uma vida vivida com honestidade.
A atração era um motor ronhando baixo, um som constante e impossível de ignorar. Um ficava na oficina depois do horário, o outro inventava desculpas para voltar.
O momento da verdade chegou com o primeiro rugido da Ducati. Jay deu a ignição, e o motor, depois de tanto tempo em silêncio, explodiu em vida. O ronco era poderoso, visceral. Grant não olhou para a moto. Seus olhos estavam fixos em Jay, com um brilho de admiração e algo mais, algo intenso e vulnerável.
— Está pronta — Jay disse, o ruído obrigando-o a se aproximar.
— E agora? — Grant perguntou, sua voz quase um sussurro contra o ronco do motor.
— Agora você pode ir para qualquer lugar.
— Não sei para onde ir.
A distância entre eles, que já era pequena, evaporou. O primeiro beijo teve o gosto de café e o cheiro de gasolina. Foi áspero e terno ao mesmo tempo, como o toque de uma chave encontrando o parafuso certo. Foi a resposta para uma pergunta que nenhum dos dois tinha coragem de fazer.
Agora, as noites na oficina têm uma trilha sonora diferente. Às vezes, é o ronco profundo da Ducati, levando-os para estradas desertas, com Grant guiando e Jay segurando sua cintura, o vento levando para longe o pó do dia. Outras vezes, é o silêncio aconchegante do apartamento de Grant, onde telas pintadas testemunham Jay adormecido no sofá, um contraste perfeito de formas e cores.
Jay Stryker ainda conserta coisas quebradas. E Grant Ducati ainda procura beleza no mundo. Mas eles descobriram que o amor é a mais perfeita interseção entre função e forma. É a peça que faltava, o ajuste preciso que faz dois mecanismos diferentes, e aparentemente incompatíveis, funcionarem em perfeita e bela sincronia.




