
O sol do meio-dia em Kingston batia forte no asfalto, criando ondulações de calor que subiam como espíritos dançantes. No beco atrás do mercado, onde o som dos alto-falantes competia com o cacarejar das galinhas, Jamaican Kidd estava pintando um mural. Seus movimentos eram a pura essência do dancehall – rápidos, fluidos e cheios de atitude. O spray na sua mão era uma extensão do seu corpo, criando explosões de verde, dourado e preto que contavam a história da resistência jamaicana.
Foi então que um turista se perdeu no beco. Bobby Jack, com suas botas de cowboy poeirentas, camisa xadrez e um ar de quem acabou de cair do último trem para Texas, parou para observar. Seus olhos azuis, wide open, acompanhavam o ritmo das latas de spray de Kidd como se estivessem vendo mágica.
“Que diabos você está encarando, cowboy?” Kidd perguntou, sem parar de pintar.
“Desculpe, é que… nunca vi cores se movendo assim”, Bobby respondeu, com um sotaque puxado que soava estranho naquela atmosfera caribenha.
O que começou com desconfiança virou uma estranha amizade. Bobby, que havia fugido de uma vida de peão no interior do Texas para encontrar “algo real”, começou a aparecer todos os dias. Kidd, inicialmente irritado, começou a ensinar-lhe sobre a arte de rua. Bobby era desastrado, suas mãos – acostumadas a laçar bezerros – tremiam com as latas de spray, mas ele aprendia rápido.
Kidd mostrava a Bobby a batida da ilha, leva-o para ouvir sound systems até o amanhecer. Bobby, em troca, compartilhava histórias de céus estrelados do deserto e ensinava a Kidd canções country tristes em seu violão.
O amor cresceu no espaço entre seus mundos. Era Kidd rindo das tentativas de Bobby de falar patuá, era Bobby defendendo Kidd quando galerias tentavam explorar seu talento. Era o contraste perfeito – fogo e terra, reggae e country, Kingston e Lubbock.
Numa noite quente, sob um céu repleto de estrelas que Bobby jurou serem as mesmas do Texas, eles estavam no telhado de Kidd, olhando para a cidade adormecida.
“Seu mundo é tão barulhento”, Bobby sussurrou. “Mas eu finalmente encontrei o silêncio nele.”
Kidd olhou para o cowboy que havia trocado seu chapéu por um boné do Bob Marley, e sorriu. “E seu mundo era tão quieto, mas você trouxe a música com você.”
Quando se beijaram, naquele telhado acima de Kingston, foi como duas batidas diferentes encontrando o mesmo ritmo – não uma colisão, mas uma harmonia recém-nascida, tão inesperada quanto um cowboy no Caribe, e tão certa quanto as cores no mural de Kidd.