Jail – Kike Gil and Xiscoxx fuck

O vento salgado do Mediterrâneo agitava os cabelos escuros de Kike Gil enquanto ele observava o mar bater contra as rochas abaixo do mirante. Aquele era o seu lugar de refúgio, onde a confusão da cidade de Palma desaparecia e só restava o som das ondas e o voo das gaivotas. Herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da ilha, Kike carregava um peso nos ombros que o dinheiro não podia aliviar: a expectativa de ser alguém que não era.

Foi em uma dessas noites, quando o crepúsculo pintava o céu de laranja e roxo, que ele viu Xiscoxx pela primeira vez.

Não era um homem comum. Xiscoxx era uma tempestade de tatuagens, correntes de prata e olhos verdes que desafiavam a paisagem serena. Sentado nos degraus de pedra do mirante, ele desenhava em um caderno espiral, os fones de ouvido tocando uma batida que Kike não conseguia ouvir, mas quase podia sentir. Era uma figura dissonante, um raio de modernidade caótica no cenário atemporal.

Kike, acostumado à etiqueta e aos sussurros dos salões da alta sociedade, sentiu-se simultaneamente atraído e intimidado. Sua vida era um script previsível; Xiscoxx parecia a personificação do improviso.

– A vista é melhor do que o desenho? – a voz de Xiscoxx foi surpreendentemente suave, rasgando o silêncio.

Kike deu um salto. Ele não tinha percebido que estava sendo observado, muito menos que havia estado encarando.

– Desculpe, eu… – gaguejou.

– Relaxa. – Xiscoxx fechou o caderno, revelando uma capa coberta de adesivos de bandas de punk e símbolos anarquistas. – É um lugar público. Chamo-me Xisco. Xiscoxx, na verdade, mas Xisco serve.

– Kike. Kike Gil.

Xiscoxx arqueou uma sobrancelha perfurada por um anel. – Gil? Como nos “Gils” da construtora?

Kike assentiu, esperando o habitual olhar de julgamento ou de bajulação. Mas ele não veio. Em vez disso, Xiscoxx simplesmente encolheu os ombros.

– Deve ser uma droga ter um sobrenome que todo mundo conhece.

E foi assim que começou. Encontro após encontro no mirante. Kike descobriu que Xiscoxx era um artista de grafite, um poeta das ruas que transformava muros cinzas em sonhos vibrantes. Xiscoxx descobriu que por trás do blazer de grife e da postura impecável de Kike, havia um jovem que sonhava em ser arquiteto, não um mero administrador do império da família.

Kike aprendia a linguagem das ruas com Xiscoxx, que lhe mostrava seus esboços e falava de arte com uma paixão contagiante. Xiscoxx, por sua vez, ouvia as angústias de Kike, suas dúvidas sobre o futuro e o peso de um legado que não era de sua escolha.

O amor não surgiu como um furacão, mas como a maré: constante, inevitável, lavando as areias de suas almas solitárias. Foi no mesmo mirante, sob um céu salpicado de estrelas, que Kike encontrou a coragem de tocar o rosto de Xiscoxx, afastando um cacho rebelde de seu rosto.

– Isto não está no script, Kike Gil – sussurrou Xiscoxx, seu olhar desafiador suavizado por uma vulnerabilidade que só Kike via.

– Estou cansado de viver de acordo com um script – Kike respondeu, e seus lábios encontraram os de Xiscoxx num beijo que sabia a sal, tinta spray e liberdade.