Jack Xtra and Big Boy Joey fuck

O céu sobre a cidade era um tapete de veludo cinza, prometendo chuva a qualquer momento. Jack Xtra encostou-se à parede de tijolos do beco, ajustando os óculos de aro fino. Ele era uma figura esguia, um emaranhado de nervos e observações astutas. Seu mundo era feito de linhas de código e das histórias em quadrinhos que desenhava em cadernos Moleskine. Mas, naquele momento, seu mundo tinha se reduzido a um único ponto: a porta do “Covil do Leão”, o bar mais ruidoso e cheio de energia do bairro.
Lá dentro, sob as luzes neons que pintavam de roxo e âmbar, estava Big Boy Joey.
Joey não era apenas grande; era uma paisagem. Um homem de ombros largos que preenchiam qualquer espaço, com mãos que poderiam rachar uma noz ou consertar um motor com igual delicadeza. Ele comandava o bar com um sorriso fácil e uma voz grave que afogava o som dos altos-falantes. Enquanto Jack se escondia em seus blusões, Joey usava camisetas brancas que testemunhavam seu trabalho.
Eles eram um contraste ridículo. Jack, com seus cálculos mentais e medo de multidões. Joey, que conversava com estranhos como se fossem velhos amigos. O amor não tinha surgido num rompante, mas num acúmulo de momentos.
Começou com Jack, forçado a sair de seu apartamento por um amigo preocupado, sentando-se no canto mais escuro do bar. Joey, percebendo sua desconfortável solidão, trouxe-lhe uma cerveja escura, “porque você parece o tipo que gosta de saborear as coisas”, e um hambúrguer com o nome “O Monstro”.
“Chama-se Big Boy”, Joey dissera, com um sorriso que fez cócegas no estômago de Jack. “Feito para aguentar o tranco.”
Jack, com uma coragem que não sabia ter, respondeu: “Prefiro o cozinheiro.”
O rubor que subiu pelo pescoço de Joey foi a coisa mais genuína que Jack tinha visto em semanas.
Dali em diante, tornou-se uma rotina. Jack ia ao bar nas noites mais calmas. Desenhava em seu caderno. Joey, nos intervalos, sentava-se com ele. Jack falava sobre a beleza da lógica booleana e a tragédia de personagens de quadrinhos. Joey falava sobre sua avó italiana, que o ensinou a fazer molho, e sobre o som satisfatório de um motor que pega no primeiro contato.
Jack aprendera que a força de Joey não era apenas física; era uma força de presença, uma âncora no mundo caótico. E Joey descobrira que a quietude de Jack não era vazia; era um oceano profundo de histórias e um olhar que via a beleza nas rachaduras da parede e no modo como a luz batia num copo de whisky.
Naquela noite, porém, algo era diferente. A chuva começou a cair, fina e persistente. Jack, encorajado por meses de encontros furtivos e conversas que duravam até o amanhecer, decidiu que era hora. Suas mãos trêmulas seguravam um envelope.
Entrou no bar. A música estava alta, e Joey estava no fundo, rindo com um grupo de clientes. O coração de Jack acelerou. Ele era um ponto de calma em um mar de movimento. Quando Joey o viu, seu rosto iluminou-se com um sorriso que era só dele.
Jack não esperou. Caminhou até o balcão, deslizou o envelope sobre a superfície de madeira manchada e saiu, desaparecendo na cortina de chuva do lado de fora.
Joey, com o coração batendo forte, abriu o envelope. Dentro, não havia uma carta, nem um bilhete. Era uma página de quadrinhos.
No primeiro quadro, ele via a si mesmo, um gigante gentil atrás do balcão, com linhas tão precisas e cheias de afeto que pareciam palpáveis. No segundo, Jack, pequeno e com os óculos empinados na ponta do nariz, olhando para ele de longe. Nos quadrinhos seguintes, pequenos momentos que só eles dois conheciam: a primeira cerveja, a primeira vez que suas mãos se tocaram ao passar um copo, a noite em que Jack mostrou a Joey um desenho dele consertando uma cadeira, transformando-o num herói de capa.
E no último quadro, a cena mais ousada: as duas figuras, a esguia e a imponente, de mãos dadas, suas silhuetas contra um céu cheio de estrelas em forma de código binário e constelações que lembravam o rosto um do outro. Num balão de fala, saindo da boca de Jack, estava escrito: “Meu mundo é mais seguro quando você está nele.”
Joey não pensou. Empurrou a porta do bar e entrou na chuva. A água encharcou sua camiseta branca em segundos. Ele avistou Jack alguns metros adiante, encolhido sob a marquise de uma loja, tremendo não de frio, mas de nervosismo.
“Jack!” sua voz ecoou no beco vazio.
Jack virou-se, seus olhos arregalados atrás dos óculos embaçados.
Joey chegou até ele, ofegante. A página de quadrinhos, agora molhada e frágil, estava segura em sua mão enorme.
“É verdade?” Joey perguntou, sua voz um sussurro rouco contra o som da chuva.
Jack apenas acenou, sem fala.
Big Boy Joey não sorriu. Sua expressão era séria, intensa. Ele ergueu a mão livre e tocou o rosto de Jack, sua mão áspera e quente contra a pele fria do jovem.
“O meu também”, Joey disse. “Meu mundo faz mais sentido quando você está nele.”
E naquela noite, sob a chuva que lavava a cidade, os opostos não se atraíram – eles se completaram. Jack Xtra, com seu coração extra de poeta, e Big Boy Joey, com sua força extra de abrigo, encontraram, num beco molhado, o ponto final para uma história que mal tinha começado. E o primeiro capítulo seria escrito a dois, a partir dali.