Hugs Kndelas fucks Manuel Capri

O vento soprava frio pelas ruas de pedra de Lisboa, mas Hugs Kndelas não o sentia. Encostado à varanda do seu pequeno apartamento no Bairro Alto, ele só sentia o calor de uma ausência. Do outro lado do Tejo, o céu pintava-se de laranja e roxo, um espetáculo que outrora ele dividira.
Hugs era um colecionador de momentos. Não de objetos, mas de sensações. Guardava o cheiro da primeira chuva no asfalto quente, o sabor do café da manhã de um domingo preguiçoso, a textura áspera da página de um livro antigo. E na sua coleção mais preciosa, vivia Manuel Capri.
Manuel era o oposto de Hugs. Onde Hugs era quieto e observador, Manuel era explosão e cor. Pintor, chegara ao prédio com suas telas coloridas, risadas altas e uma energia que desafiava a melancolia habitual de Hugs.
Conheceram-se no elevador, um espaço tão pequeno que parecia forçar a intimidade. Hugs, com seus braços cheios de livros. Manuel, com uma mancha de tinta azul na bochecha e um sorriso desarmante.
“Você é o novo vizinho do segundo andar”, disse Manuel, não como uma pergunta, mas como uma constatação feliz. “Hugs? Que nome extraordinário. Parece um convite.”
Hugs corou, mas não conseguiu desviar o olhar daquela tinta azul. Aquela foi a primeira sensação que colecionou de Manuel: o azul cobalto vivo na pele clara.
O amor não foi um raio em céu aberto. Foi uma tela sendo pintada, camada por camada, dia após dia. Foram cafés na varanda de Hugs, com Manuel falando de sonhos e Hugs ouvindo, acrescentando quietude à sua turbulência. Foram tardes no ateliê de Manuel, onde Hugs lia em silêncio, apenas acompanhado pelo som do pincel sobre a tela.
Manuel pintou Hugs. Não seu retrato físico, mas sua essência. Uma tela imensa onde predominavam verdes serenos (a cor dos seus olhos), marrons terrosos (a cor dos seus livros preferidos) e toques de um amarelo suave (a cor da paz que ele emanava). No centro, duas figuras abstratas se entrelaçavam, feitas de luz e sombra. Manuel chamou a obra de “O Abraço Perfeito”.
Um dia, porém, o mundo de Manuel expandiu-se para além de Lisboa. Uma galeria em Paris quis sua obra. Era a oportunidade de uma vida. Hugs, com o coração a despedaçar-se em mil pedaços, sorriu com os olhos cheios de água e disse: “Você tem que ir.”
A despedida foi um suspiro longo e doloroso. Não houve drama, apenas a promessa silenciosa de que aquilo não era um adeus, mas um “até já”.
E agora, meses depois, Hugs estava na varanda, colecionando o frio e a saudade. O pôr do sol diário era seu ritual, uma maneira de sentir-se conectado a Manuel, que certamente estaria vendo o mesmo sol se pôr sobre o Sena.
Foi então que ouviu passos conhecidos na escada. Coração acelerado, virou-se.
Era ele. Manuel Capri estava na porta, mais magro, com olheiras, mas com o mesmo sorriso que desafiava a melancolia de Lisboa. Cheirava a viagem e a tinta de óleo.
“Paris é linda”, disse Manuel, a voz um pouco rouca. “Mas as suas galerias são frias. E nenhum pôr do sol é mais bonito que o daqui.”
Hugs não conseguiu falar. Permaneceu imóvel, temendo que aquilo fosse um sonho que se desfaria com um movimento.
Manuel aproximou-se, e Hugs viu que ele carregava um rolo de tela.
“Trouxe uma exposição inteira na minha cabeça, Hugs. Mas a única coisa que importa está aqui.”
Desenrolou a tela. Era a mesma pintura, “O Abraço Perfeito”. Mas agora, as duas figuras centrais estavam nítidas, completas, perfeitamente encaixadas. Manuel apontou para uma pequena inscrição no canto, que Hugs não tinha visto antes: “Obra inacabada. Sempre será. Porque um abraço perfeito nunca tem fim.”
“Percebi que minha arte não tem graça sem o meu crítico mais quieto”, confessou Manuel. “Sem você para colecionar meus silêncios entre uma pincelada e outra, as cores não são as mesmas. Voltei para terminar a obra. Contigo.”
Hugs Kndelas, o colecionador de momentos, finalmente moveu-se. Deu um passo à frente e enterrou o rosto no pescoço de Manuel, respirando fundo. Era a sensação mais preciosa que ele já colecionara: o cheiro de casa.
E sob o último raio de sol da tarde, na varanda com vista para o Tejo, os dois se encaixaram. E Hugs entendeu que Manuel estava certo. Alguns abraços são tão perfeitos que nunca têm fim. Eles apenas fazem uma pausa, esperando pelo próximo reencontro.