HugeAjax and Woody Fox fuck
O silêncio no apartamento de **HugeAjax** era absoluto, quebrado apenas pelo clique suave de um teclado mecânico. Seu mundo era feito de código, de linhas de comando em uma tela preta, de problemas complexos resolvidos na quietude da madrugada. Ele era um *debugger* de lendas, o último recurso para empresas de tech quando tudo mais falhava. Sua fama era anônima, seu nome real, um segundo melhor guardado que qualquer senha. Ele era um fantasma no sistema, um gigante de um reino invisível.
Do outro lado do corredor, o apartamento de **Woody Fox** era um carnaval perpétuo. Violões, pandeiros, latas de tinta spray e risadas altas. Woody era artista de rua e músico, um furacão de energia criativa que pintava murais coloridos e cantava canções irreverentes em praças públicas. Sua vida era um palco, sua existência, um ato de rebeldia alegre contra o cinza da cidade. Enquanto HugeAjax vivia na sombra, Woody vivia no holofote.
O primeiro contato foi uma batida na porta de HugeAjax, às 3 da manhã.
“E aí, vizinho! Desculpa acordar o morto-vivo, mas você tem uma chave inglesa?”
HugeAjax abriu a porta e se viu diante de um homem com o cabelo descolorido, roupas salpicadas de tinta e um sorriso que deveria ser ilegal de tão brilhante naquela hora. Ele segurava um cavalete quebrado.
HugeAjax, que possuía uma ferramenta para cada eventualidade, pegou a chave sem dizer uma palavra e a entregou.
“Você é aquele cara quietão, né? O Huge? O Woody, prazer!” disse o vizinho, consertando o cavalete no corredor com uma eficiência surpreendente. “Cara, seu silêncio é tão profundo que às vezes eu acho que tô morando do lado de um vácuo.”
E foi embora, deixando para trás o cheiro de tinta e um desconforto estranho na rotina de HugeAjax.
Nos dias seguintes, pequenas invasões começaram a acontecer. Um pacote entregue por engano na porta de HugeAjax (um pote de glitter). O Wi-Fi de Woody que, misteriosamente, caiu e ele precisou pedir ajuda. Um bolo um pouco queimado, “porque fiz demais”.
HugeAjax resistia. Ele gostava da sua parede de som. Mas começou a notar coisas. A música que Woody assobiava no corredor era surpreendentemente complexa. As latas de tinta vazias em frente à sua porta eram organizadas em um arco-íris perfeito. Havia uma metódica por trás daquela aparente bagunça.
A grande virada foi um ataque de *ransomware* que paralisou a conta bancária online de Woody, onde ele guardava todo o dinheiro para um projeto comunitário.
“É tudo que eu tenho, cara! Eles tão pedindo um resgate em Bitcoin!” Woody explicou, desesperado, na porta de HugeAjax pela segunda vez.
HugeAjax olhou para a tela do laptop de Woody, um caos de pop-ups assustadores. Era um problema simples para ele.
“Deixa eu ver,” ele disse, sua primeira frase completa para o vizinho.
Em duas horas, trabalhando em silêncio no apartamento imaculado de HugeAjax, o vírus foi erradicado, o dinheiro, recuperado. Woody observou, maravilhado, não com o problema, mas com a quieta maestria daquele homem.
“Você… você é um mágico,” Woody sussurrou.
“É só código,” HugeAjax respondeu, mas seu rosto corou levemente.
A partir daquele dia, uma trégua estranha se transformou em amizade. HugeAjax começou a aparecer no apartamento de Woody para “testar a acústica” – uma desculpa para ouvi-lo tocar. Woody, por sua vez, começou a apreciar o silêncio compartilhado, levando seu violão para tocar suavemente no sofá de HugeAjax enquanto ele trabalhava.
O amor não foi um bug, mas uma feature que ambos desconheciam no seu sistema operacional. Estava no café que HugeAjax aprendera a fazer do jeito que Woody gostava. Estava no adesivo de uma raposa (um “fox”) que Woody colou, de brincadeira, na tampa do laptop de HugeAjax, e que ele nunca tirou.
Uma noite, Woody pintou um mural discreto na parede do corredor, bem entre as duas portas. Era uma raposa estilizada (uma “fox”) sentada tranquilamente ao lado de um gigante da mitologia grega (um “Ajax”), os dois olhando para as mesmas estrelas.
HugeAjax viu o mural e, pela primeira vez, foi ele quem bateu na porta de Woody.
“É nós,” Woody disse, sem precisar de explicações.
HugeAjax assentiu. E então, naquela fronteira entre o silêncio e a música, entre o código e a cor, ele fez algo que nenhum algoritmo poderia prever: ele se inclinou e beijou o artista.
E descobriu que o beijo de Woody Fox não era um erro no sistema. Era a solução para um problema que ele nem sabia que tinha. O gigante do código e a raposa das ruas haviam encontrado, um no outro, o patch perfeito para a solidão.




