Heloween – Dima Deep, Martin XXL – a blowjob
O **Abismo Azul** não era uma boate comum. Era uma experiência. Localizada no subsolo de um prédio antigo, suas paredes eram de aço escovado e vidro espesso, com tanques enormes que funcionavam como aquários, iluminados por uma luz cobalto hipnótica. Lá dentro, a água era a estrela. E **Dima Deep** era sua sacerdotisa.
Dima, uma bióloga marinha que trocara os oceanos abertos por esta caverna urbana, era a mergulhadora residente. Três vezes por noite, ela entrava no tanque principal, um cilindro de dez metros de altura no centro da pista de dança. Vestida apenas em um body prateado que refletia a luz como escamas, ela realizava uma dança subaquática, flutuando entre arraias, peixes-lua e cardumes de sardinhas, seu longo cabelo castanho formando uma auréola ao redor do rosto sereno. Ela era um espetáculo de graça e quietude, um contraponto vivo à batida eletrônica que ecoava do lado de fora do vidro. As pessoas iam ao Abismo Azul para ver a “Sereia de Aço”, a mulher que parecia respirar água e cujos olhos verdes, ampliados pela máscara, viam um mundo que ninguém mais podia tocar.
**Martin XXL** era tudo, menos quieto. Dono de uma marca de roupas *streetwear* chamada “XXL” (que significava “eXtra eXtra Livre”, não o tamanho), Martin era um furacão de cores, risadas altas e energia expansiva. Seu uniforme era um conjunto de moletom oversized cor-de-rosa choque, tênis raros e correntes de ouro. Ele era presença obrigatória nas festas, o cara que conhecia todo mundo e que fazia a energia de qualquer lugar subir 200%. Ele foi ao Abismo Azul por curiosidade, arrastado por um cliente que queria impressioná-lo.
A princípio, Martin ficou fascinado pela arquitetura do lugar, pela vibe *cyberpunk*. Até que a música baixou, as luzes principais se apagaram e o tanque central se iluminou. E ele viu Dima.
Ela deslizava como um fantasma, interagindo com uma arraia que passava por suas mãos como um lenço de seda. O silêncio dentro da água contrastava brutalmente com a batida que ele ainda sentia nos pés. Martin, acostumado a ser o centro das atenções, ficou paralisado. Não pela beleza do espetáculo (que era inegável), mas pela *solidão* que emanava dela. Aquela mulher, no centro de uma festa, estava no lugar mais isolado do mundo. Era como olhar para o fundo do oceano através de um buraco de fechadura.
Após a apresentação, enquanto a boate fervilhava, Martin viu Dima sair por uma porta técnica, ainda com uma toalha nos ombros. Num impulso que nada tinha de seu estilo calculado de socializar, ele se aproximou.
“Ei,” disse ele, bloqueando seu caminho para os vestiários. “Aquilo foi… pesado.”
Dima ergueu os olhos, cansados. Ouvia elogios vazios o tempo todo. *Hipnótica, angelical, sensual*. “Pesado?” repetiu, uma sobrancelha arqueada.
“Pesado de profundo. De sólido. Você tá lá dentro tipo… um astronauta do mar. É muito foda, mas também parece muito frio.” Ele franziu o nariz, olhando para o tanque. “Nunca pensou em colocar umas estampas coloridas naquelas paredes de aço? Daria um contraste maneiro.”
Dima quase sorriu. Era a coisa mais idiota e mais genuína que alguém já lhe dissera sobre seu trabalho. “O habitat é simulado para o bem-estar dos animais, não para contraste estético.”
“Tudo pode ter um pouco de contraste estético, *sereia*,” ele rebateu, com um sorrisão que deveria ser irritante, mas que, por alguma razão, não era. “Chama-se personalidade. Meu nome é Martin. Faço roupas. E acho que você precisaria de um moletom gigante e cor-de-rosa depois de sair daquela geladeira.”
Ela não aceitou o moletom naquela noite. Mas aceitou um café, no dia seguinte, num lugar barulhento e cheio de luz, o oposto total de seu mundo aquático. Ela falou sobre pressão hidrostática e comportamento de cardumes. Ele falou sobre serigrafia, tendências de TikTok e a filosofia por trás de um capuz oversized. Eles não entendiam metade do que o outro dizia, mas *gostavam* de ouvir.
Martin começou a ir ao Abismo Azul toda semana. Não para festejar, mas para vê-la dançar. Ele parou de achar o tanque frio; começou a ver as nuances de movimento, a comunicação silenciosa entre ela e os peixes. E Dima, por sua vez, começou a notar as estampas divertidas nas camisas das pessoas na pista, as cores que dançavam sob a luz negra. Um dia, ela viu Martin, do outro lado do vidro, tentando imitar o movimento lento de uma água-viva, seus braços largos de moletom se movendo com uma graça cômica. Ela soltou uma risada dentro do regulador, uma bolha de ar feliz subindo até a superfície.
O amor deles foi uma mistura de elementos impossíveis. Ele a chamava para festas em rooftops ensolarados; ela o levava para aquários vazios às segundas-feiras, onde o silêncio era absoluto. Ele projetou para ela uma linha de roupas de mergulho “pós-apocalíptica”, com capuzes e detalhes reflexivos que faziam os outros mergulhadores rirem e a ela fazer cócegas por dentro. Ela o ensinou a flutuar, imóvel, na parte mais profunda da piscina olímpica municipal, mostrando-lhe um mundo de paz que ele nunca imaginou existir.
Numa noite, após seu mergulho, Dima encontrou Martin esperando por ela na porta técnica. Ele estava sério, o que era raro.
“O que foi?” ela perguntou, ainda pingando.
“Eu tenho uma ideia. E você vai odiar. Mas escuta.” Ele puxou um tablet e mostrou um design. Era uma projeção mapeada para o tanque exterior. Não cores berrantes, mas sim tons suaves de algas, planctons bioluminescentes, raios de sol filtrando pela água. “Não é para o público. É para você. Para quando você estiver lá dentro. Para você ter um pôr do sol no fundo do mar.”
Dima olhou para as imagens, depois para o rosto animado de Martin, e sentiu algo estranho: o calor. Aquele calor expansivo e contagiante que ele carregava, agora direcionado inteiramente para criar beleza no *seu* mundo silencioso.
“É a ideia mais ridícula e maravilhosa que já tive,” ela admitiu.
“Chama-se personalidade, sereia,” ele sussurrou, encostando a testa na dela. “A minha e a sua, misturadas. A profundidade e a superfície.”
Agora, às vezes, durante o espetáculo, quem está do lado de fora do tanque vê, por trás de Dima dançando, um céu aquático mudar de cor, de azul profundo para tons de rosa e laranja, como um abraço luminoso projetado no aço. E sabe-se que, na cabine de controle, um furacão chamado Martin XXL opera os projetores, com um sorriso tão grande quanto o oceano é profundo, criando um pôr do sol apenas para os olhos verdes da mulher que aprendeu a respirar em seu mundo, e que lhe ensinou a quietude do fundo do mar.




