GuNio LoVe and Milton Escudero fuck
O estúdio de dança era um mundo de espelhos, suor e batidas implacáveis. Nele, GuNio LoVe era uma tempestade de movimento. Seu corpo quebrava a gravidade, cada *pop*, *lock* e *wave* era uma palavra em um idioma de pura energia. Seu nome artístico era uma declaração, e sua dança, um grito. Fora dali, porém, o grito se transformava em um sussurro tímido.
Do outro lado do corredor de vidro, no escritório da administração do centro cultural, Milton Escudero mantinha o mundo funcionando. Seus dias eram feitos de planilhas, orçamentos apertados e relatórios. Ele usava camisas sociais impecáveis e um olhar prático que parecia catalogar o universo em colunas de “viável” e “inválido”. Ele era a solidez, a lógica, o alicerce.
Milton observava GuNio dançar. Era um ritual não confessado. Enquanto organizava recibos, sua atenção era roubada pelo furacão de movimento além do vidro. Havia uma liberdade naquela dança que ele não conseguia compreender, mas que anseiava profundamente.
Um dia, o furacão entrou em seu escritório. GuNio, com seu moletom com capuz e respiração ofegante, parecia menor longe dos espelhos.
— Preciso de um formulário — ele disse, os olhos fixos no chão. — Para o concurso de dança. “Batalha do Asfalto”.
Milton, com o coração batendo mais rápido do que o permitido por seu código de conduta, entregou o formulário. Suas mãos quase se tocaram.
— O prazo é sexta-feira, — disse Milton, sua voz soando anormalmente grave.
— Vai dar certo, — GuNio murmurou, e saiu como um fantasma.
Na sexta-feira, o formulário não estava lá. Milton encontrou GuNio no estúdio vazio, encolhido em um canto, a confiança drenada.
— Não posso, — sussurrou GuNio, sem olhar para cima. — Lá fora… é diferente. As pessoas… elas esperam que eu seja o “GuNio LoVe” o tempo todo. E às vezes eu só sou… Nio.
Milton não pensou. Pousou sua pasta no chão, tirou o blazer e dobrou cuidadosamente as mangas de sua camisa social.
— Ensine-me, — disse ele.
GuNio olhou para ele, atordoado.
— O quê?
— Ensine-me a dançar. Qualquer coisa. Um movimento. — A solicitação era tão absurda, tão fora do personagem, que quebrou a espiral de ansiedade de Nio.
O que se seguiu foi desastroso e lindo. Milton era rígido como uma tábua, seus movimentos eram calculados, não sentidos. Mas ele tentou. Ele realmente tentou. E pela primeira vez naquele dia, Nio riu. Um riso genuíno, não o sorriso artístico que ele usava como armadura.
— Não, não, assim — e as mãos de Nio, suaves e certeiras, guiaram os braços de Milton, ajustaram seus ombros.
O toque foi um choque. Para Milton, foi como ser atingido por uma corrente elétrica de pura vida. Para Nio, foi como tocar em rocha sólida no meio de um mar tempestuoso. Era aterrador e seguro.




