Gage Palmer gets fucked in lingerie and stockings
O silêncio na biblioteca do casarão era tão espesso quanto a poeira que cobria as encadernações de couro. Gage Palmer não pertencia àquele lugar de letras mortas e histórias encerradas. Seu mundo era feito de concreto, aço e do ritmo acelerado do pregão, onde fortunas eram feitas e perdidas no tempo de um piscar de olhos. Mas o avô morrera, e aquele casarão antigo, com sua biblioteca absurda, era agora sua.
Herança maldita, pensou. Ele estava lá apenas para assinar papéis do inventário. Enquanto esperava o advogado, vagou entre as estantes, seus sapatos italianos fazendo eco no assoalho de madeira. Seus dedos passaram sobre lombadas gastas, desdenhoso. Até que um volume mais estreito, sem título na capa, pareceu… diferente. Menos empoeirado. Ao puxá-lo, não era um livro, mas um diário antigo, preso numa espécie de estojo de madeira finamente talhada.
Abrindo-o ao acaso, seus olhos escanearam uma entrada datada de 1929.
*”Outubro 29. O mercado desabou. Os fracos gritam nas ruas. Meus pares estão arruinados. Eles não entenderam. A verdadeira bolsa não é Wall Street. É esta aqui.”*
A frase seguinte era um enigma: *”Para encontrar o capital, siga a sombra do corvo ao meio-dia.”*
Gage sentiu um calafrio, não de medo, mas de reconhecimento imediato. Era a linguagem de um especulador. Um caçador como ele, só que de outra era. Intrigado, olhou pela janela alta da biblioteca. No jardim abandonado, sobre uma estátua grega decapitada, pousava um corvo.
Eram exatamente 11:58.
Ele quase correu. Posicionou-se na porta da biblioteca, seus olhos fixos na estátua e na ave. Quando o relógio da torre badalou o primeiro meio-dia, algo mágico aconteceu. A sombra alongada do corvo, projetada pelo sol zenital, não apontou para o chão, mas sim, de forma impossível, esticou-se como um dedo negro em direção à base de uma velha roseira morta no canto do jardim.
Gage não hesitou. Pegou uma pá enferrujada da carruagem e cavou. A poucos centímetros, a lâmina atingiu metal. Era um cofre pequeno e enferrujado. Dentro, não havia ouro ou joias, mas um único envelope amarelado. Ao abri-lo, Gage encontrou três coisas: uma fotografia desbotada de seu bisavô – um homem de olhar penetrante que ele nunca conhecera – em frente ao mesmo casarão; um mapa da cidade com marcas em locais que hoje eram parques, mas que em 1929 eram endereços de corretoras falidas; e uma única folha com uma lista de nomes e, ao lado, valores imensos em dólares da época.
No verso, escrita na mesma caligrafia do diário, estava a verdadeira herança:
*”Para o meu sangue que um dia ler isto: Eles pensam que a riqueza é o dinheiro. Você e eu sabemos que é a informação. O mapa leva ao que enterrei deles. O diário explica como lhes tirei. Use com sabedoria. Ou não. O mercado, afinal, é amoral. – Alistair Palmer.”*
Gage Palmer ficou de pé no jardim arruinado, a sujeira nas mãos, o corvo observando de longe. Um sorriso lento cruzou seu rosto. O pregão eletrônico, as telas brilhantes, o mundo digital… de repente pareciam brinquedos. Seu bisavô não lhe deixara uma fortuna pronta. Deixara-lhe um *jogo*. Um jogo muito melhor.
A herança não era o casarão. Era a caça. E Gage Palmer, finalmente, sentia-se em casa.




