Gabriel Cross, Leander and Hairy Wolf – a threesome
As ruínas do forte na colina eram o território de Hairy Wolf. Gabriel Cross só queria um lugar silencioso para desenhar. Foi ali que se encontraram, ou melhor, que Gabriel invadiu, com sua prancheta e seus lápis, o reino de pedra e solidão do jovem mais selvagem da cidade.
Hairy Wolf não era seu nome de batismo, claro, mas era o único que respondia. Ele vivia com os cães abandonados que congregavam no forte, compartilhando comida e o pouco abrigo que as paredes despedaçadas ofereciam. Era arredio, observador, com um olhar que parecia entender a linguagem do vento e dos animais.
Gabriel, por outro lado, era todo linhas suaves e curiosidade quieta. Ele não fugiu quando Hairy Wolf surgiu de trás de uma pilastra, desconfiado. Em vez disso, ofereceu-lhe uma maçã. Em troca, ganhou permissão silenciosa para ficar.
As visitas de Gabriel tornaram-se diárias. Ele desenhava as vistas, os cães, e, cada vez mais, os traços angulares e os olhos intensos de Hairy Wolf. Um dia, trouxe Leander.
Leander não era um cachorro comum. Era um velho pastor-alemão, cego de um olho e movendo-se com a dignidade de um rei destronado. Hairy Wolf ficou imóvel ao vê-lo. Algo em sua postura rígida mudou. Ele se ajoelhou, e Leander, com uma sabedoria ancestral, aproximou-se e pressionou sua cabeça cinzenta contra o peito do jovem. Foi um momento tão íntimo que Gabriel quase virou o rosto, sentindo-se um intruso.
A partir daquele dia, uma corrente invisível se estabeleceu entre os três. Gabriel desenhava, Hairy Wolf cuidava dos cães (com uma atenção especial a Leander, que agora o seguia como uma sombra fiel), e uma compreensão profunda brotava no silêncio compartilhado. O amor de Gabriel por Hairy Wolf não foi um raio, mas o lento nascer do sol. Manifestava-se no sanduíche extra que trazia escondido, no gibi de aventura deixado sobre uma pedra, na defesa silenciosa quando garotos da cidade subiam para importunar.




