Fode até o talo – Alex Kof e Alfonso Osnaya
A livraria *Páginas Encantadas* era o reino de Alex Kof. Um lugar silencioso, cheirando a papel velho e café fresco, onde cada volume na prateleira era um amigo. Alex era metódico, tranquilo, e acreditava que as melhores histórias estavam sempre seguras entre capas, longe da imprevisibilidade da vida real.
Alfonso Osnaya era uma história que não podia ser contida. Ele entrava na livraria como um furacão de energia criativa, vestindo roupas coloridas e carregando pastas com esboços de personagens fantásticos. Era ilustrador, e vinha buscar inspiração nos contos de fadas e épicos que Alex tanto amava.
O primeiro encontro foi sobre um livro esquecido. Alfonso, procurando por uma edição rara de *”O Pequeno Príncipe”*, derrubou acidentalmente uma pilha inteira de romances policiais. O barulho fez Alex correr from o balcão, pronto para repreender o cliente desastrado. Mas os olhos que encontraram os seus eram tão cheios de arrependimento genuíno e curiosidade, que sua irritação se dissolveu como açúcar no café.
“Desculpe,” disse Alfonso, com um sorriso tímido. “Minhas mãos são melhores para segurar lápis do que para a física básica.”
Alex, contra seu protocolo habitual, ajudou a recolher os livros. E, num impulso que o surpreendeu, convidou Alfonso para tomar um café. A conversa fluiu como uma narrativa bem construída. Alex falava sobre a estrutura de um enredo, Alfonso sobre dar alma a uma página em branco. Eles eram, Alex percebeu, dois lados da mesma história: um dava as palavras, o outro, a vida visual.
Alfonso começou a frequentar a livraria não como cliente, mas como uma parte dela. Ele se instalava em um canto próximo ao balcão, seus lápis riscando o papel enquanto Alex atendia os clientes. Um silêncio confortável se instalava entre eles, pontuado apenas pelo virar das páginas e pelo som suave do grafite.
O ápice daquela dança silenciosa veio quando Alfonso apresentou a Alex um presente. Era um livro ilustrado, uma história original sobre um jovem livreiro tímido cujo mundo monocromático é invadido por um artista que pinta o mundo com todas as cores do arco-íris.
“É a única história para a qual eu não precisei de inspiração em uma prateleira,” Alfonso sussurrou, seu rosto um tom mais vermelho do que o habitual. “A inspiração estava bem à minha frente o tempo todo.”
Alex pegou o livro, suas mãos cuidadosas tocando as páginas como se fossem relíquias. As ilustrações capturavam não apenas sua imagem, mas sua essência: a paixão contida, a gentileza nos olhos, a ordem metódica de sua vida que agora era complementada, e não perturbada, pelo caos criativo de Alfonso.
Naquele momento, entre as estantes silenciosas que testemunharam milhares de histórias de amor, Alex entendeu que a sua própria história de amor não estava escrita em nenhum livro. Estava sendo desenhada, traço por traço, no coração, por um artista chamado Alfonso Osnaya. E ele, Alex Kof, finalmente se permitiu ser o protagonista.
