A feira livre da pequena Vila Franca era um caos organizado de cores, cheiros e vozes. De um lado, na barraca **”Plantas do Fabian”**, o silêncio reinava. Fabian Rick, um homem de mãos calejadas e sorriso raro, arrumava mudas de tomate e vasos de manjericão com uma precisão quase cirúrgica. Seu mundo era verde, previsível e tranquilo.
Do outro lado da rua, o universo explodia em decibéis. Na barraca **”Los Lopez – As Mais Bonsas da Região!”**, a confusão era uma instituição. Los Lopez, na verdade, era apenas uma pessoa: Lorena Lopez, uma mulher de riso fácil e cabelos desobedientes, que gritava ofertas, negociava preços e, ao mesmo tempo, tentava consertar um liquidificador que soltava faíscas. Seu mundo era um carnaval de panelas, utensílios e gritaria.
Era um antagonismo geográfico. Fabian vendia a paciência da terra. Lorena, o barulho da vida prática.
Por meses, eles se observaram. Fabian via a energia de Lorena como um furacão desnecessário. Lorena via a quietude de Fabian como uma preguiça disfarçada. Um dia, uma tempestade surpreendeu a feira. Os feirantes correram para proteger suas mercadorias. Fabian, metódico, cobriu suas plantas com uma lona impecável. Lorena, desesperada, tentava puxar uma pesada caixa de panelas sozinha, com a chuva encharcando seus cabelos.
Sem uma palavra, Fabian cruzou a rua. A água escorria pelo seu rosto sério enquanto empurrava a caixa de Lorena para debaixo de sua lona, já abarrotada. Ficaram ali, ombro a ombro, encharcados, protegendo o manjericão e as panelas antiaderentes.
— Obrigada — disse Lorena, ofegante, surpresa. — Posso pagar com um… liquidificador? Está meio capenga, mas é só mal contato.
Fabian olhou para o liquidificador, depois para o sorriso torto dela, e pela primeira vez em anos, riu. Um som baixo e genuíno que se perdeu no barulho da chuva.
— Prefiro um café — ele respondeu. — Quando a chuva passar.
A chuva passou. O café aconteceu. E depois, muitos outros. Fabian descobriu que o barulho de Lorena não era caos, era vida. Ela cantarolava enquanto consertava um relógio quebrado, ria alto ao queimar um bolo, e suas histórias eram tão coloridas e imprevisíveis quanto sua barraca. Lorena descobriu que a quietude de Fabian não era vazia, era profunda. Ele escutava de verdade, observava o crescimento de uma semente com paciência infinita e suas poucas palavras eram sempre certeiras.




