DP for French bear – Dzfucke, Hadrian Capusty, Melad Paris
O aroma de café torrado e massa folhada dançava no ar da pequena padaria “Fleur de Sel”, escondida em uma rua secundária de Paris. **Melad Paris**, a dona, era uma mulher de movimentos suaves e olhos tristes que carregavam a névoa do amanhecer. Suas mãos, calejadas pela farinha, criavam pães que eram pequenas obras de arte, cada um com uma história de fermentação lenta e cuidado.
A vida de Melad era um ritmo solitário: acordar às 3h, amassar, assar, atender os clientes com um sorriso discreto. Até que um cliente habitual começou a se destacar. **Hadrian Capusty** era um escritor, ou pelo menos tentava ser. Ele vinha todas as tardes, sempre se sentava no mesmo canto próximo à vitrine e ficava horas encarando a tela branca do seu laptop, interrompido apenas por longos goles de café negro.
Ele era quieto, observador, e tinha um jeito desengonçado que Melad achava cativante. Seus olhos, de um verde musgo, pareciam perdidos em mundos distantes. Ela o servia em silêncio, mas começou a deixar pequenos presentes em sua mesa: um croissant de amêndoas extra que “havia sobrado”, uma fatia de brioche doce que “não venderia no dia”.
Hadrian começou a notar. Notou as mãos habilidosas de Melad, a paciência com que ela trançava a massa, a sombra de cansaço sob seus olhos que nunca apagava seu brilho. Um dia, ele fechou o laptop e disse, de repente:
“Seu pão de fermentação natural… ele tem gosto de saudade. De algo que ficou para trás.”
Melad paralisou, uma faca de cortar pão na mão. Ninguém jamais tinha entendido. Foi o início. As palavras, antes presas, começaram a fluir. Ele falava de suas histórias não escritas, dos personagens que habitavam sua mente. Ela falava de sua vila no interior, da avó que lhe ensinou os segredos do fermento, da solidão que a trouxera para a grande cidade.
O amor deles floresceu como a massa madre de Melad: lento, constante, nutritivo. Era feito de silêncios compartilhados, de mãos que se encontravam sobre o balcão enfarinhado, de jantares tardios após a padaria fechar.
E então, havia **Dzfucke**.
Dzfucke não era uma pessoa. Era o gato de rua que Hadrian havia adotado, um vira-lata tricolor de olhos amarelos e atitude de dono do mundo. O nome era um trocadilho intraduzível que Hadrian achou engraçado em um momento de frustração criativa. Dzfucke era o elemento imprevisível, a fera selvagem e doméstica que completava o cenário.
Ela arranhava os sacos de farinha, roubava pedaços de manteiga e dormia no balcão, ignorando completamente a placa de “Proibido Animais”. Melad, a princípio relutante, acabou por aceitar que aquele pequeno furacão de pelos era parte do pacote que era amarrar Hadrian.
Uma noite, durante um temporal que castigava Paris, a energia caiu na padaria. Apenas as velas iluminavam o ambiente, criando sombras dançantes nas paredes. Hadrian, Melad e Dzfucke estavam no sofá pequeno, enrolados em um cobertor. O gato ronronava no colo de Melad, uma bola de calor e contentamento.
“Você sabe”, sussurrou Hadrian, observando o perfil de Melad iluminado pela chama tremula, “eu costumava vir aqui para fugir do bloqueio criativo. Agora, eu venho para casa.”




