
O bar “O Covil do Lobo” era um lugar de sombras e histórias mal contadas, um reino indiscutível pertencente a LeGrand Wolf. Ele era uma lenda viva, um homem cujo passado era sussurrado em tons respeitosos e temerosos. Myles Landon, por outro lado, era um romancista de sucesso, um caçador de histórias. Ele se sentava no mesmo banco todas as noites, tentando decifrar o código que era LeGrand, anotando observações em um caderno de couro.
A dinâmica mudou na noite em que Danny Wilcoxx entrou.
Danny era um furacão de energia nervosa e cabelo descolorido. Um pianista de jazz que havia perdido seu trio e, aparentemente, sua direção. Ele se encostou ao piano empoeirado no canto e, sem pedir licença, deixou seus dedos correrem pelas teclas. O som que saiu não era uma música, mas uma alma sendo desfiada – caótica, dolorosa e brutalmente bela.
LeGrand, que nunca tolerava interrupções em seu domínio, ficou imóvel atrás do bar, um copo de whisky esquecido na mão. Seus olhos, frios como gelo, fixaram-se em Danny com uma intensidade que fez Myles parar de escrever.
“Quem é aquele?” Myles sussurrou para LeGrand.
A resposta foi um rosnado quase inaudível. “Problema.”
Mas LeGrand não mandou Danny parar. Night after night, Danny voltava. Sua música era o antítese do próprio bar: cheia de luz dissonante e esperança fraturada. Atraía uma clientela diferente, pessoas com olhos que ainda brilhavam, e LeGrand observava, seu rosto um máscara impenetrável.
Myles observava os dois. Ele via a maneira como os olhos de LeGrand seguiam Danny, não com raiva, mas com um reconhecimento profundo e agonizante. Era o olhar de um homem vendo um fantasma de sua própria juventude selvagem e indomável. E via a maneira como Danny, em seus raros momentos de quietude, olhava para LeGrand não com medo, mas com uma curiosidade desarmante, como se visse o homem por trás do mito.
Uma noite, depois que um cliente embriagado tentou agarrar Danny no meio de uma música, LeGrand moveu-se com uma velocidade assustadora. Ele não levantou a voz. Apenas colocou uma mão no ombro do homem e sussurrou algo em seu ouvido. O homem empalideceu e saiu arrastando-se.
Danny, respirando ofegante, encarou LeGrand. O silêncio no bar era pesado.
“Por que você me deixa tocar aqui?” Danny perguntou, sua voz trêmula.
LeGrand olhou para ele, e pela primeira vez, Myles viu a máscara rachar. “Porque sua música,” ele disse, a voz áspera como graxa, “me lembra de um tempo em que eu acreditava que poderia consertar coisas quebradas.”
Myles fechou seu caderno. Ele percebeu que a história que estava tentando capturar não era a de LeGrand, nem a de Danny. Era o espaço entre eles – o silêncio que a música de Danny preenchia e a solidão que a proteção de LeGrand revelava.
Naquela noite, Danny não tocou uma nota sequer. Sentou-se no banco do bar, ao lado de Myles, e os três homens ficaram em silêncio – o lendário, o escritor e o pianista. Um triângulo estranho, unido por uma história não contada e um amor nascendo não em palavras ou melodias, mas na linguagem silenciosa de almas reconhecendo seus pares danificados no escuro.