David Webb and Ty Roderick – The New Property Chapter 4

O ar no “Café das Páginas” cheirava a livro velho e café fresco, uma combinação que David Webb considerava o perfume da perfeição. Ele estava encostado no balcão, ajustando o avental, quando a campainha da porta tilintou.
Era Ty Roderick.
David o conhecia de vista há semanas. Ty vinha toda terça e quinta-feira, sempre sentando no mesmo canto, debaixo da estante de poesia. Ele não era o tipo de pessoa que passava despercebida. Usava jaqueta de couro, tinha uma leve cicatriz acima da sobrancelha e mãos que pareciam ter histórias para contar. Enquanto David organizava xícaras e anotava pedidos, Ty preenchia um caderno de esboços com traços rápidos e intensos.
Um dia, depois de Ty sair, David foi limpar a mesa e encontrou o caderno esquecido no banco. A ética mandava que ele guardasse e aguardasse. A curiosidade, um traço que David sempre combateu com pouca eficácia, foi mais forte. Abriu uma página aleatória.
E seu mundo parou.
Lá não havia paisagens ou rostos de estranhos. Era ele. David, inclinado sobre o balcão, com uma caneta atrás da orelha. David, sorrindo para um cliente idoso. David, absorto na leitura de um livro durante um momento de calmaria. Cada traço era carinhoso, cada sombra capturava uma expressão que ele mesmo nem sabia que tinha.
O coração batendo forte, ele correu para a porta, mas Ty já havia sumido no fluxo de pessoas na calçada.
No dia seguinte, a tensão no ar era palpável. Ty chegou, pálido, os olhos vasculhando o café desesperadamente. Quando seu olhar encontrou o de David, foi como um choque.
“Eu… acho que você esqueceu isso,” disse David, entregando o caderno com mãos ligeiramente trêmulas.
Ty pegou o caderno, seus dedos roçando os de David. Um rubor subiu por seu pescoço. “Obrigado. Eu… desculpa.”
“Pelo quê?” David perguntou, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. “Pelo fato de eu ser um modelo tão relutante?”
Um sorriso aliviado rompeu a tensão no rosto de Ty. “Algo assim. É que… sua concentração é cativante. Parece que o mundo desaparece quando você faz café.”
“E você,” David contra-atacou, sentindo uma coragem que não sabia ter. “Desenha como se estivesse tentando capturar a alma das coisas.”
Foi o início. O café fechou, mas eles não foram para casa. Caminharam pela cidade, e David aprendeu que Ty Roderick era um ilustrador freelancer, um tanto cínico, incrivelmente talentoso e profundamente tímido. Ty descobriu que David Webb era um estudante de literatura, metódico, com um humor seco e um jeito tranquilo que acalmava sua própria natureza tempestuosa.
O amor deles não foi dramático. Não foi sobre declarações grandiosas, mas sobre cafés silenciosos compartilhados depois do expediente, sobre os pés se tocando debaixo da mesa, sobre David posar – “Só por cinco minutos!” – enquanto Ty desenhava, capturando não mais um estranho, mas o homem que ele amava.
Uma noite, sentados no parque, Ty entregou a David um desenho emoldurado. Era ele, sim, mas não no café. Era David dormindo no sofá de Ty, um livro aberto no colo, os óculos tortos no rosto. A imagem transbordava uma ternura tão íntima que David sentiu os olhos marejarem.
“David Webb,” Ty sussurrou, seu nome soando como uma promessa na boca dele. “Você se importa se eu te desenhar pelo resto da vida?”
David olhou para aquelas mãos que agora seguravam as dele, as mãos que transformavam seus momentos comuns em arte. Ele sorriu, um sorriso completo e sem reservas.
“Só se eu puder escrever a nossa história,” ele respondeu, fechando a distância entre eles para um beijo que sabia a café, a tinta de carvão e a um novo começo.