David Rage, Andrew Rage – Fit For Fucking
						David Rage era fogo. Ele carregava o sobrenome como uma profecia: sua raiva era um vulcão adormecido sob a pele, pronto para entrar em erupção diante de qualquer injustiça, real ou percebida. Ele era o lutador, o que quebrava paredes, o que gritava para ser ouvido em um mundo que parecia surdo. Sua vida era uma sucessão de empregos perdidos e portas batidas.
Andrew Rage era gelo. O mesmo sobrenome, uma manifestação diferente. A raiva de Andrew era interna, silenciosa, uma geada que queimava por dentro. Ele era o analista, o estrategista. Enquanto David explodia, Andrew calculava. Ele canalizava a fúria herdada em números, em planos meticulosos, em um controle tão rígido que beirava a asfixia.
Eles eram irmãos, mas eram opostos magnéticos que se repeliam e se atraíam em igual medida. David via Andrew como um covarde, muito cerebral para agir. Andrew via David como um animal irracional, que destruía tudo o que tocava.
O estopim foi a herança da velha casa da família, um lugar cheio de memórias amargas. David queria vender, queimar as lembranças. Andrew queria reformar, domar o passado. A discussão foi violenta, cheia de palavras afiadas que só irmãos sabem lançar.
“Você é um medroso, Andrew! Tem medo de sentir, de viver!” David gritou, seu rosto vermelho de ódio.
“E você é um fracasso, David! Sua única solução para tudo é quebrar!” Andrew retrucou, sua voz um corte frio e preciso.
David saiu, batendo a porta com tanta força que o quadro na parede caiu e o vidro estilhaçou. Andrew ficou parado no meio da sala, tremendo de uma raiva tão profunda e contida que doía.
Horas depois, uma chamada do hospital. David havia se envolvido em uma briga de bar. Fratura no braço, rosto cortado. Andrew foi buscá-lo, seu silêncio mais eloquente que qualquer recriminação.
No carro, o ar estava pesado. David, envergonhado e com dor, olhou para o irmão.
“Por que você veio?” ele sussurrou, a fúria drenada, restando apenas o cansaço.
Andrew parou o carro em frente à casa deles, a mesma que haviam brigado para decidir o destino. Ele olhou para as mãos no volante, brancas de tanto apertar.
“Porque a minha raiva não é contra você, David,” ele disse, a voz finalmente quebrando. “É a mesma raiva. Só lido com ela de um jeito diferente. E eu tenho medo… medo de que um dia a sua te consuma, e eu fique aqui sozinho, segurando as cinzas.”
David olhou para o irmão, verdadeiramente olhou. E pela primeira vez, ele não viu o gelo de Andrew. Viu o vulcão sob a geada. Viu o medo. Viu o amor.
A raiva deles era a mesma. Um rio com dois afluentes: um turbulento e barulhento, outro profundo e silencioso.
Sem uma palavra, David baixou a cabeça e chorou. E Andrew, quebrando uma vida de controle, pousou uma mão trêmula no ombro do irmão.
Eles não venderam a casa. Não a reformaram imediatamente. Na manhã seguinte, começaram a consertar a porta quebrada juntos. David, com um braço engessado, segurava as madeiras. Andrew, com suas mãos precisas, martelava os pregos.
Era um começo. A fúria não tinha desaparecido, mas tinha encontrado um novo alvo: construir, em vez de destruir. Eles eram os Rage. E finalmente entendiam que sua força não estava em domar a tempestade um do outro, mas em aprender a dançar na chuva juntos.
				



