Damien Roux and Jack Bailey fuck
A cozinha do “Le Cerf Noir” era um inferno controlado, e Damien Roux era seu demônio chefe. Com suas mãos marcadas por queimaduras de gordura e um paladar infalível, ele reinava sobre panelas de cobre e reduções que custavam mais que o salário de um estagiário. Seu temperamento era tão afiado quanto seus facas de aço inoxidável. Ele era um artista do sabor, um tirano do molho, e seu mundo era delimitado pelas quatro paredes de sua cozinha de três estrelas Michelin.
Jack Bailey era o sol. Um entregador de bicicleta, suas pernas eram pistões que percorriam a cidade sob qualquer clima. Seu uniforme era um colete reflexivo sujo de chuva, seu capacete sempre um pouco torto, e seu sorriso, uma constante. Ele conhecia cada buraco no asfalto, cada atalho, e cada porteiro pelo nome. Sua vida era um filme de ação em câmera rápida, com uma trilha sonora de buzinas e o vento assoviando em seus ouvidos.
Todas as tardes, às 15h17 em ponto, Jack estacionava sua bicicleta na entrada de serviço do “Le Cerf Noir”. A entrega era sempre a mesma: uma caixa de cogumelos selvagens raros de um fornecedor nas montanhas. E a interação era sempre a mesma.
Damien pegava a caixa com um grunhido, inspecionando o conteúdo com um olhar que poderia fazer um homem fraco tremer. “Estão dois minutos mais tarde, Bailey. O tempo é sabor. Sabor é dinheiro.”
Jack, imperturbável, apenas arrancava o recibo de sua bolsa térmica. “O trânsito na Avenida Central é um pesadelo, chef. Até eu, o rei do asfalto, fiquei preso. Mas eles valeram a espera, não é?” Ele dava um tapinha na caixa com uma familiaridade que irritava e intrigava Damien.
E sempre dizia algo diferente. “Olha só, este aqui parece o ouvido de um duende.” Ou “Este cogumelo é tão feio que é bonito. Igual ao meu primo Larry.”
Damien não respondia. Apenas virava os calcanhares e voltava para suas panelas. Mas, nos dias em que Jack se atrasava, ele percebia sua própria impaciência, seu olhar indo até a porta de serviço com mais frequência. Aquele raio de sol que invadia seu reino de aço inox por cinco minutos diários tinha se tornado uma anomalia em sua rotina.
Um dia de tempestade tropical, a entrega não chegou. Às 15h30, Damien estava à beira de um ataque de nervos. Seu menu de jantar dependia daqueles cogumelos. Ele ligou para o fornecedor, que confirmou que a entrega havia saído.
Quando a porta de serviço se abriu finalmente, era 16h00. Jack estava encharcado, o colete reflexivo pingando, com um olho roxo e o joelho sangrando. A caixa de cogumelos, no entanto, estava perfeita, envolta em sua capa de chuva.
“Um carro… deslizou na curva da rua Hill,” ele disse, ofegante, com o sorriso ainda tentando se formar em seus lábios. “A bicicleta… não resistiu. Mas os cogumelos sim.”
Damien olhou para o homem molhado, machucado e sorridente. E algo em seu rigoroso mundo culinário rachou. O silêncio na cozinha era absoluto, todos os estagiários observando.
Sem uma palavra, Damien pegou a caixa. Ele não a inspecionou. Em vez disso, colocou-a no balcão e se virou para Jack.
“Sente-se,” ordenou Damien, sua voz mais áspera do que o habitual.
Jack, confuso, obedeceu, pousando em um tamboreiro. Damien pegou um pano limpo, molhou-o em água quente e, com uma estranha suavidade, começou a limpar o corte no joelho de Jack. Depois, ele pegou um saco de ervilhas congeladas e o colocou gentilmente sobre o olho roxo.
“Você é um idiota, Bailey,” Damien murmurou, evitando seu olhar. “Poderia ter morrido por uns cogumelos.”
“São cogumelos muito bons, chef,” Jack riu, e então gemeu de dor.
Damien então fez algo que ninguém naquela cozinha jamais tinha visto. Ele pegou uma pequena frigideira, aqueceu um pouco de manteiga com tomilho e alho, e salteou os cogumelos mais perfeitos da caixa. Em seguida, pegou um pedaço de pão rústico, esfregou-o com azeite e o torrou. Colocou os cogumelos fumegantes sobre o pão e o colocou nas mãos de Jack.
“Coma,” ele ordenou. “Antes que esfrie.”
Jack mordeu o pão. Seus olhos se fecharam. “Caramba, chef. É… é isso?”
Era a primeira vez que Damien Roux cozinhava para alguém sem a intenção de impressionar, criticar ou ganhar uma estrela. Cozinhou apenas para nutrir. Para cuidar.
Naquele dia, o sol de Jack Bailey não se pôs na porta de serviço. Ele entrou na cozinha e ficou. E Damien, o mestre dos sabores complexos, descobriu o gosto mais simples e revigorante de todos: o do cuidado.




