Cuban DY, Milton Escudero, Paulhot83 fuck on the deck
O armazém na zona portuária era um reino de poeira e memórias. Cuban DY era seu rei de coração partido. Entre caixas de charutos Cohiba falsificados e pilhas de discos de vinil desgastados, ele mantinha viva a chama de uma Havana que talvez nunca tivesse existido, exceto em sua nostalgia. Sua vida era um bolero triste tocado em um velho vitrola.
Milton Escudero era um caixeiro-viajante da modernidade. Vendia sistemas de segurança digital, uma existência de hotel em hotel, de aeroporto em aeroporto. Sua vida era um aplicativo de mensagens instantâneas e conexões de Wi-Fi, tudo na superfície, nada com raízes.
Paulhot83 não era uma pessoa. Era um pseudônimo, um fantasma no mármore do fórum online “Sons de uma Era Dourada”. Era o único que conseguia identificar a gravação pirata de um concerto de Benny Moré de 1957 ou a origem de um determinado refrão de rumba. Milton, em um de seus voos sem fim, descobriu o fórum e Paulhot83. Por weeks, trocaram mensagens. Paulhot83 tinha a alma de um arqueólogo musical; Milton, a curiosidade de um turista perdido.
Certo dia, Milton mencionou a cidade. Paulhot83 respondeu com um silêncio digital que durou dias. Depois, uma única mensagem: “Procure pelo Armazém do DY. No cais velho. Diga que Paulhot83 o enviou.”
Intrigado, Milton encontrou o lugar. A porta rangeu. Cuban DY estava lá, limpando um disco com um pano, seus dedos cuidadosos como os de um cirurgião. O ar cheirava a mofo, tabaco e tempo parado.
“Milton,” ele se apresentou, hesitante. “Paulhot83 me enviou.”
A mão de Cuban DY parou. Ele ergueu os olhos, pela primeira vez em anos, verdadeiramente surpreso. Ninguém conhecia aquele nome. Era o seu segredo, sua identidade nas sombras da internet, seu refúgio da solidão do armazém.
“DY,” ele respondeu, a voz um sussurro áspero. “Cuban DY.”
Os dois mundos colidiram. Milton, o nômade digital, e DY, o guardião do analógico. Milton não procurava por sistemas de segurança naquele lugar, mas por algo que não soube nomear. DY, por sua vez, viu em Milton uma janela para o mundo exterior do qual ele se isolara.
As visitas tornaram-se regulares. Milton ouvia histórias sobre cada disco, cada fotografia amarelecida. DY, timidamente, perguntava sobre as cidades que Milton visitava. Eles descobriram que Paulhot83 e Cuban DY eram a mesma pessoa: um homem que se escondia atrás de um nickname para compartilhar sua paixão sem revelar sua solidão.
O amor não foi um bolero dramático. Foi um danzón, lento e elegante, que os foi aproximando. Era Milton trazendo um café decente para DY, que só bebia um expresso amargo e forte. Era DY ensinando Milton a dançar uma salsa básica, entre as pilhas de caixas, com o vitrola arranhando no fundo.
Numa tarde, o sol poente filtrando-se pelas frestas do armazém, iluminando a poeira dourada, Milton pegou na mão de DY, afastando-o suavemente do vitrola.
“Paulhot83 me encontrou,” Milton disse, suavemente. “Mas foi Cuban DY que me prendeu.”
DY olhou para suas mãos entrelaçadas – a mão suave do vendedor e a mão calejada do colecionador. O fantasma online e o homem do armazém finalmente se fundiam.
“O armazém é grande demais para uma pessoa só,” DY confessou, sua voz mais firme.
“E o mundo é pequeno demais quando se está sempre sozinho,” Milton completou.
E naquele armazém cheio de passado, entre os ecos de uma música que nunca parou de tocar, os dois encontraram um futuro. Não era mais sobre a Havana perdida, nem sobre as cidades anônimas. Era sobre a geografia simples de duas mãos que se encontram, finalmente, no lugar certo.




