Charlie Cherry fucks Darius del Ray

O estúdio de Charlie Cherry cheirava a terebintina e à verdade nua dos cantos. Ele era um pintor de retratos, mas não daqueles que adornam salões. Charlie capturava almas. Telas com rostos marcados pela vida, olhos que contavam histórias de dor e resiliência, enfeitavam as paredes de tijolo à vista. Seu mundo era um de silêncios observados e verdades brutais.
Darius del Ray era o oposto absoluto. Ele era um fenômeno da música pop, um sinônimo de luzes de néon, batidas eletrônicas e letras que falavam de um amor genérico e consumível. Seu mundo era de hologramas e histeria, um furacão de brilho fabricado onde Darius, o *personagem*, reinava supremo. Darius, o *homem*, estava irremediavelmente perdido em algum lugar dentro dele.
Seus caminhos se cruzaram por obrigação contratual. A gravadora de Darius decidiu que ele precisava de uma imagem mais “autêntica”, e encomendou um retrato a Charlie Cherry. O artista relutou, detestando a ideia de mais uma fachada polida. A equipe de Darius tremeu, temendo o olhar cru de Charlie sobre seu produto principal.
A primeira sessão foi um desastre. Darius chegou com um séquito de assessores, maquiagem impecável e uma postura ensaiada. Charlie, de pé diante de uma tela em branco, os braços cruzados, disse apenas: “Não.”
“Como assim, ‘não’?” perguntou Darius, irritado.
“Esse daí”, Charlie apontou para ele, “não é uma pessoa. É um manequim. Não pinto manequins. Volte quando o verdadeiro Darius estiver disponível.”
A frieza e a audácia de Charlie deixaram Darius atordoado. Ninguém falava com ele daquela forma. Intrigado e desafiado, ele dispensou a equipe e voltou no dia seguinte, sozinho.
As sessões seguintes foram um campo de batalha silencioso. Darius sentava-se, tentando manter a máscara. Charlie observava, seus olhos cinza parecendo enxergar através da pele, da maquiagem, diretamente para o vazio. Ele não fazia um traço sequer.
“O que você está esperando?” Darius perguntou, um dia, a frustração transbordando.
“Estou esperando você se cansar de fingir”, respondeu Charlie, sua voz um sussurro áspero.
Foi então que Darius quebrou. A pressão de uma turnê mundial, a solidão dos hotéis de cinco estrelas, o peso de ser um símbolo e não um ser humano – tudo veio à tona. Ele cobriu o rosto com as mãos e, pela primeira vez em anos, chorou. Não foram lágrimas de artista, mas soluços roucos e feios de um homem exausto.
Charlie não disse uma palavra. Ele pegou seu carvão e, finalmente, começou a desenhar. Ele não desenhava o ídolo, mas a fragilidade exposta. A curva dos ombros curvados, a sombra sob os olhos molhados, a vulnerabilidade da nuca.
Quando Darius se recompôs, envergonhado, Charlie virou a tela. O que ele viu não foi uma caricatura de sua dor, mas um retrato de sua *humanidade*. Alguém havia visto, finalmente, através de Darius del Ray, e não havia fugido.
A partir daquele dia, algo mudou. Darius voltava não por obrigação, mas por necessidade. Para sentar no silêncio acolhedor do estúdio, onde ele não precisava ser ninguém. Charlie, por sua vez, começou a ver a melodia escondida naquele homem – não a batida alta das pistas de dança, mas uma canção triste e solitária que ele nunca soube como compor.
O retrato foi finalizado meses depois. Nele, Darius não sorria. Ele simplesmente *era*. Seus olhos guardavam uma profundidade tranquila, uma paz conquistada. A gravadora odiou. Era “muito sombrio”, “não comercial”.