Charlie Cherry and Mateus Souza fuck – Scene 2

O aroma doce de cerejas frescas era a primeira coisa que Mateus Souza percebia todas as manhãs ao abrir a pequena livraria herdada do avô. Era um cheiro que não combinava com o lugar, mas que ele tinha aprendido a amar. Vinha da confeitaria da vizinha, “Doce Charlie”, gerida por Charlotte, mas que todos chamavam de Charlie.
Charlie Cherry era um furacão de energia e farinha. Seus cabelos ruivos estavam sempre presos de qualquer jeito, e um leve respingo de glacê corava sua bochecha como uma pintura de guerra doce. Mateus era o oposto: organizado, quieto, cujas maiores aventuras aconteciam nas páginas dos livros empoeirados que vendia.
Por meses, a relação deles se resumiu a acenos cordiais pela vitrine e a troca semanal de um bolo de café por um livro de poesia. Até o dia em que o destino, ou melhor, um cano estourado, forçou a mão.
A chuva torrencial daquela tarde alagou a rua e, com um estrondo abafado, um cano velho se rompeu na parede da livraria, ameaçando destruir uma pilha de primeiras edições. Desesperado, Mateus correu para a confeitaria.
“Charlie! Preciso de ajuda!”
Ela não hesitou. Com a força que surpreendia em seu corpo franzino, ela ajudou a carregar caixas de livros para o lado seco da loja, enquanto a água subia até os tornozelos. Quando a tempestade passou e o cano foi reparado, a livraria estava um caos, mas os livros preciosos estavam a salvo.
Em agradecimento, Mateus convidou Charlie para jantar. Não em um restaurante chique, mas entre as pilhas de livros, com o cheiro de papel velho e a luz suave de um abajur. Ele cozinhou um simples espaguete, e ela trouxe uma torta de cereja recém-saída do forno.
Foi então, naquela noite tranquila, que a magia aconteceu. Enquanto Charlie falava com paixão sobre a precisão do ponto do açúcar e Mateus explicava a trama intrincada de um romance russo, eles descobriram que suas quietudes e tempestades internas se complementavam. Os olhos castanhos calmos de Mateus encontraram os verdes animados de Charlie, e algo mudou no ar entre eles.
O romance não foi dramático. Não houve declarações grandiosas sob a chuva, nem ciúmes passionais. Foi uma construção lenta e doce, como uma receita de família.
Mateus começou a deixar pequenos bilhetes com versos de amor dentro das caixas de bolo que comprava. Charlie, por sua vez, criou um doce especial: o “Sonho do Livreiro”, um bolo de chocolate amargo com recheio de cerejas escuras, que se tornou o segredo mais mal guardado da rua.
Ele aprendia, aos poucos, a sujar as mãos de farinha. Ela descobria o prazer de perder uma tarde inteira imersa em um livro, com a cabeça apoiada no ombro dele.
Um ano depois, no aniversário da enchente que os uniu, Mateus fechou a livraria mais cedo. Ele a decorou com velas e, no centro, havia um livro encadernado à mão. A capa era dura e lisa, e o título, em letras douradas, dizia: “A História Mais Doce”.