Charlie Cherry and Leo Galileo fuck

O universo de Charlie Cherry era um turbilhão de alta-costura, glitter e fumaça de _hairspray_. Nos bastidores do “Fuego”, o cabaré mais famoso da cidade, ela era uma diva. Donzela de guerra de plumas e lantejoulas, sua voz, um contralto aveludado que podia partir um coração em dois, era a atração principal. Charlie era feita de puro espetáculo, um furacão de charme e bravata.
O universo de Leo Galileo era um santuário de silêncio, calculo e pó de giz. No planetário da cidade, ele era um astrônomo. Passava as noites com a cabeça nas estrelas, mapeando constelações e explicando as leis do cosmos a um público boquiaberto. Leo era feito de paciência e curiosidade, um homem que encontrava drama na dança silenciosa dos planetas.
Seus mundos colidiram em uma noite de terça-feira. Após um show eletrizante, Charlie, ainda com as asas de plumas e a maquiagem brilhante, fugiu dos fãs e do barulho, subindo até o terraço vazio do prédio vizinho ao cabaré. Lá, encontrou um homem de capuz, encarando o céu noturno através de um telescópio comprido.
— Ei, isso é invasão de propriedade privada, sabia? — disse ela, com suas melhores armas de diva.
O homem, Leo, se virou, sem se perturbar. Seus olhos, por trás dos óculos, eram calmos e profundos como o céu que estudava.
— A propriedade é privada, mas o céu é de todos — respondeu, com um sorriso tranquilo. — Está vendo aquela estrela, ali, a mais brilhante? É Vênus. A Astronomia a chama de ‘estrela da manhã’, mas os romanos a viam como deusa da beleza. Acho que ela veio me visitar hoje.
Charlie, acostumada a elogios vazios, ficou sem palavras. Aquele era diferente. Era um fato poético.
Intrigada, ela começou a visitá-lo no terraço. Trocaram presentes estranhos: ele lhe deu um fragmento de meteorito; ela lhe deu um lenço de seda com seu batom. Ele lhe ensinou sobre a vida e morte das estrelas; ela lhe ensinou sobre a arte de se maquiar no escuro. Ele falava de buracos negros e da expansão do universo; ela falava de ansiedade de palco e da solidão nos holofotes.
Leo via em Charlie não a diva, mas uma estrela em seu próprio direito — uma força da natureza, complexa e magnética. Charlie via em Leo não o nerd recluso, mas um universo inteiro de ternura e inteligência, um porto seguro longe do caos de sua vida.
Uma noite, sob a luz de uma lua crescente, Leo ajustou o telescópio.
— Olhe aqui — ele pediu, suavemente.
Charlie olhou. Era um aglomerado de estrelas, um borrão de luzes dançantes contra o veludo negro.
— É o Aglomerado da Borboleta — ele sussurrou, próximo a seu ouvido. — Cientificamente, é M6. Mas eu… eu o chamo de ‘Charlie’. Porque é o aglomerado mais brilhante e caótico que já vi. E lindo de doer.
Charlie se afastou do telescópio. Suas lantejoulas cintilavam com as estrelas. Sem dizer uma palavra, ela tirou o brilho dos lábios e o colocou suavemente no rosto dele, deixando uma marca vermelha e perfeita em sua bochecha.
— Um beijo de estrela — ela disse, seu tom de diva suavizado pela emoção genuína. — Para você, que me ensinou que meu palco é só um cantinho de um universo muito, muito maior.
E sob a imensa abóboda celeste, o astrônomo e a diva se encontraram, não como fuga de seus mundos, mas como a descoberta de uma nova constelação — uma que só os dois podiam ver, composta de plumas, poeira estelar e um amor que era, em si mesmo, a maior atração de todas.