Carter Woods and Bruce Jones fuck – D Is For Divorce
A biblioteca municipal de Cedar Ridge cheirava a papel antigo, cera de madeira e silêncio. Carter Woods trabalhava lá há cinco anos, e conhecia cada farfalhar do assoalho de pinho, cada sombra entre as estantes altas. Seu mundo era uma sinfonia ordenada de números de catalogação, capas de couro e paz. Ele usava cardigãs de lã, mesmo na primavera, e sua vida era previsível e segura como a linha do horizonte vista da janela do segundo andar.
Tudo mudou numa tarde de terça-feira, com o estrondo de uma escada de alumínio sendo arrastada sobre o piso de madeira.
Bruce Jones, o novo zelador, era um vendaval de ruído e movimento. Usava uma camiseta de uma banda de rock que Carter não reconhecia, tinha uma corrente prateada reluzente no bolso do jeans e assobiava — desafinado — músicas que pareciam desafiar a própria quietude do lugar. Ele limpava janelas com vigor, arrumava móveis com um barulho ensurdecedor e parecia completamente alheio ao sistema de sussurros que governava a biblioteca.
Carter, nervoso, roía a parte interna da bochecha. Aquela presença era uma agitação insuportável em seu mundo estático.
“Por favor, Sr. Jones”, Carter sussurrou, aproximando-se naquele dia fatídico. “O assobio. Os livros… têm concentração frágil.”
Bruce parou, esponja em punho, e olhou para Carter. Seus olhos eram de um azul claro, surpreendentemente atentos. “Desculpe, Sr. Woods”, disse ele, sem sussurrar, mas numa voz mais baixa, rouca como lixa. “É um vício antigo. Ajuda a passar o tempo.”
Carter esperava resistência, grosseria. A honestidade desarmada deixou-o sem reação. Ele apenas assentiu e se retirou.
Nos dias seguintes, uma estranha dança começou. Bruce começou a limpar as estantes mais distantes — a seção de poesia do século XIX que ninguém visitava — durante o horário de pico de Carter no balcão de empréstimos. Carter, por sua vez, percebeu que Bruce sempre esquecia sua garrafa térmica de café na mesa dos funcionários. Carter começou a deixá-la em cima de um aquecedor de xícaras que ele não usava.
Um dia, uma chuva torrencial prendeu os dois na biblioteca após o fechamento. Carter, organizando devoluções, ouviu um som suave vindo da Sala de Leitura Principal. Não era um assobio. Era um violão. Uma melodia triste, bonita e simples.
Ele encontrou Bruce sentado nos degraus da escada em espiral, dedilhando as cordas com uma habilidade que contrastava com sua energia bruta.
“Você toca”, disse Carter, uma afirmação, não uma pergunta.
Bruce não parou, mas seus dedos suavizaram. “Sim. Silenciosamente, na maioria das vezes.”
Carter sentou-se numa poltrona de couro, alguns degraus abaixo. “É ‘Blackbird’, dos Beatles?”
O sorriso de Bruce iluminou o rosto. “É. Minha mãe adorava. Você conhece?”
“Um pouco.” Carter hesitou. “Minha vida é… muito quieta.”
“E a minha foi muito barulhenta”, Bruce respondeu, o som da guitarra morrendo. “Por um tempo, o barulho abafava tudo. Aqui… a quietude é boa. Dá espaço para ouvir outras coisas.”
Naquela noite, com a chuva batendo nas vidraças altas, as paredes entre eles desmoronaram. Carter contou sobre o medo que o mantinha preso à rotina, sobre a solidão que vinha mascarada de paz. Bruce falou sobre erros passados, sobre tentar reconstruir uma vida com as próprias mãos, uma coluna de cada vez. Ele era um Jones, o nome mais comum do mundo, sempre tentando ser invisível. Carter era um Woods, preso à sua floresta ordenada de livros, com medo de se aventurar para fora.




