Cage and public fucking – Alexis Tivoli, Sacha Handler
 
						O ateliê de Sacha Handler era um caos organizado de onde surgiam móveis. Serrotes, formões e toras de madeira maciça compartilhavam o espaço com esboços rabiscados em paredes pintadas de giz. Sacha trabalhava com as mãos, criando cadeiras que pareciam abraços sólidos e mesas que contavam histórias em seus veios. O cheiro era de verniz, suor criativo e café sempre queimado.
Alexis Tivoli entrou nesse santuário como um redemoinho de linhas retas. Vestindo um tailleur impecável cor de areia, ela era uma executiva da conceituada butique de design “Tivoli Concepts”. Seu salto alto ecoou no piso de concreto como uma declaração de guerra contra aquele desordem encantadora.
— Preciso do impossível, Sr. Handler — disse ela, abrindo uma pasta de couro. — Uma peça central para nosso novo showroom. Algo que seja pura emoção traduzida em forma.
Sacha limpou as mãos em um pano sujo, estudando-a não como uma cliente, mas como um novo tipo de madeira. Dura, lixada, brilhante. Por baixo do verniz, porém, ele viu um tremor. A pressão de ter que ser perfeita.
— Emoção não tem manual de instruções, Sra. Tivoli — respondeu, oferecendo-lhe um café forte em uma xícara trincada. — Ela chega quando quer.
Os dias se transformaram em um tenso e fascinante dueto. Alexis chegava pontualmente às 14h, com amostras de tecido e paletas de cores Pantone. Sacha ignorava seus cronogramas, seguindo o ritmo lento da madeira que secava ao sol da tarde. Ele falava de nós, grãos e da alma escondida dentro de um pedaço de carvalho. Ela falava de mercado, tendências e engajamento.
Era o choque entre o artesanal e o industrial, o intuitivo e o estratégico. Mas, no silêncio concentrado do ateliê, as trincheiras começaram a ruir. Alexis tirou os sapatos e, pela primeira vez, sentiu o pó de serra entre os dedos. Sacha, por sua vez, ouviu atentamente suas ideias sobre ângulos e percepção do público, descobrindo uma lógica inesperada na linguagem dela.
A atração era uma cola que secava lentamente, invisível e forte. Um ficava até mais tarde, arrumando ferramentas que não precisavam ser arrumadas. O outro “esquecia” a pasta no ateliê, precisando voltar no dia seguinte.
O clímax chegou com a peça. Era uma estante que mais parecia uma escultura, com curvas orgânicas que desafiavam a gravidade, feita de um jacarandá tão escuro que parecia absorver a luz.
— Está pronta — Sacha anunciou, a voz rouca de poeira e cansaço.
Alexis não olhou para a estante. Seus olhos, sempre tão calculistas, estavam fixos nas mãos dele, marcadas por cortes e calos.
— E agora? — ela sussurrou, a voz perdendo a afiação profissional.
— Agora você leva para seu showroom. Vai ser a sensação da temporada.
— Isso não é o que importa.
A distância entre eles, que era o comprimento de uma tábua, desapareceu. O primeiro beijo teve o gosto de café amargo e o cheiro de madeira de sândalo. Foi um encontro de texturas: a lã impecável de seu tailleur contra o algodão áspero de sua camisa suada. Foi a resposta para uma pergunta que suas vidas ordenadas nunca haviam ousado formular.
 
				



